sábado, 9 de agosto de 2008

MISTÉRIOS DA CRIAÇÃO LITERÁRIA 8


Quem não gosta de descobrir? Quem pode descobrir se não vê? Quem pode ver se não escuta? Quem pode escutar se não fala? Quem pode falar se não lê?
Na leitura está o caminho de uma série de mistérios. Continuamos aqui uma série sobre os mistérios da escrita criativa, da criação literária. Criação que nos ajuda a criarmo-nos enquanto seres cheios de mistérios.

VIII

Há perguntas que respondem mais que certas respostas. E há perguntas que exigem respostas. Abaixo algumas perguntas acerca de questões essenciais envolvendo a literatura e a vida literária.

1) O escritor é, por definição, um habitante das sombras mesmo, ou não será essa uma definição um tanto romantizada?

2) Tendo que escolher apenas uma das hipóteses – a fortuna de ter público ou a glória de ter crítica favorável –, qual você acha que seria a opção escolhida pela média dos escritores?

3) Mesmo respeitando a opção particular pelo recolhimento extremo de um Dalton Trevisan ou de um Rubem Fonseca, qual sua opinião sobre os reflexos dessa inclinação ao esconderijo na obra desses escritores – ela ajuda ou prejudica na divulgação e na compreensão de seus livros?

4) O conto parece ser o gênero de maior êxito entre os escritores brasileiros. Vide Rubem Fonseca, Dalton Trevisan, Moacyr Scliar e tantos outros. Por que essa vocação brasileira para o conto, até porque se sabe que romance vende mais?

5) Qual sua opinião sobre uma certa rejeição do público ao conto? Considerando-se o pouco hábito de leitura e o menor tempo disponível ainda, é praticamente incompreensível que romances enormes vendam com muito maior facilidade que histórias curtas.

6) Quanto de crítico tem que ter o biógrafo de um escritor, 50%?

7) Não será o escritor alguém que tem dificuldade em aceitar quem não se devora por dentro, com o ácido da autocrítica, por não estar criando (não importa o quê)? Afinal, o escritor, que cria para criar-se, sabe que todos não estamos prontos. (09/08/2008)

10 comentários:

Anônimo disse...

Grande Paulo,

vou aqui tecer um comentário, isto é, procurar dar uma resposta. Mais precisamente, para a primeira das questões apresentadas. Pode parecer meio pretensioso, eu sei, mas teu blog é estimulante.

Acho que a questão é romantizada. O escritor é um pobre-diabo como qualquer outro e, ao mesmo tempo, um iluminado, depende do escritor e de como ele é entendido. Não se pode resumi-lo.

Adalberto G. Quintanilha – Ribeirão Preto, SP.

Anônimo disse...

Caro blogueiro:

bom exercício esse, o de tentar responder às perguntas que o "Mistérios da criação literária 8" apresenta. Então resolvi responder a segunda pergunta.

A meu ver, é a pergunta mais difícil. Imagino que qualquer escritor que se preze gostaria de ter o reconhecimento dos críticos, mas se não vender nada, de nada adiantará. Será famoso e miserável. de outra forma, se ganhar o público, e fazer sucesso, viverá e bem do que vender, mas será uma espécie de Paulo Coelho, considerado lixo pelos entendidos. Imagino que ninguém goste. Eu, se fosse escritor (sou professor), não abriria mão das duas situações. Ficando numa só, acho que preferiria a glória, o reconhecimento dos críticos. O dinheiro, eu corria atrás dele de outro jeito. Infelizmente.

Breno Lazzari de Palma / Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

Anônimo disse...

Paulo,

aproveitando o que o pessoal está fazendo (responder cada uma das perguntas), fico então com a terceira questão. Considero bobagem isso de o escritor se esconder ou se mostrar. Depende da personalidade de cada um. Os mais vaidosos, claro, querem a visibilidade. Os mais... tímidos? complexados? com fobia social? sei lá mais o quê? talvez até mania de grandeza, esses certamente preferirão ficar na sua e não dar bola pra ninguém. Mas, cá entre nós, hein, com a fama feita, ninguém precisa ficar correndo atrás de notoriedade. Assim, até eu, uma desconhecida, não faria questão de aparecer. O trabalho da gente aparecendo, e bem, é o que basta.

Lucília de Moura Massaud - São Paulo, SP.

Anônimo disse...

Paulo:

responde a quarta questão colocada pelo post? Por que a preferência pelo conto entre os escritores nacionais? Eu não tenho a menor idéia. Prefiro romance. E sei que é um gênero que vende mais. O conto talvez iluda à maioria. Sendo um gênero mais curto, pode causar a ilusão de que é mais fácil. Será isso?

Fico no aguardo de uma opinião tua sobre essa questão.

Emílio Moisés Novaes - Recife, PE

Anônimo disse...

Emílio, meu caro amigo pernambucano:

não há uma resposta categórica para a questão. Acho (é só um palpite) que a incidência do conto passa exatamente pela possibilidade que levantaste, a de que se trata de gênero rápido, e desta forma, a exemplo da poesia (outro péssimo exemplo seguido pelos apressadinhos), os "criadores" ficam com a sensação de que conseguiram realizar algo. A cada 4, 5 páginas, um conto novo é contabilizado em favor do autor. Para o sujeito pensar "eu terminei um romance", precisa de pelo menos 100 páginas acabadas, e isso desanima os amadores. A maioria (vamos combinar!) é de amadores.

Anônimo disse...

Sr. Paulo:

Impressionante, inexplicável mesmo é a rejeição ao conto. As pessoas não lêem e preferem comprar livros grossos, romances, biografias. Eis a quinta questão colocada. Bem, na minha modesta opinião (e cruel opinião), o fato é que a maioria não lê mesmo, só compra livros. Para mostrar aos amigos, para enfeitar a estante da sala. E aí os livros de gêneros de mais fôlego impressionam mais. Não encontro outra explicação. Nem penso que possa existir outra.

Eloi Balbino (Caxias do Sul, RS)

Anônimo disse...

Paulo,

você é escritor, biógrafo, crítico. Ninguém melhor que você para responder a sexta pergunta. Quanto de crítico deve ter um biógrafo? Ele deve ater-se apenas aos fatos da vida do biografado ou também interpretar o significado e o valor da obra de seu personagem estudado? Penso que o ideal seria um equilíbrio nessas duas abordagens. Como tudo na vida, um equilíbrio. Que lhe parece?

Luís Alberto Chagas - Campo Bom, RS.

Anônimo disse...

Atenção, todo mundo aqui neste post:

isto é um grupo de estudos? Está parecendo. Se é, agradeço, e muito, a dedicação dispensada às questões que o texto propôs. E parabenizo-os pelas inteligentes respostas. A continuar assim, os comentários passarão a ser mais lidos que os posts. Muito obrigado!

Anônimo disse...

Paulo,

sim. Somos pessoas que se conhecem através da internet e através da literatura, que nos une e nos leva a nos conhecermos muito melhor, uns aos outros e também cada um a si mesmo, como você bem sabe. É um prazer colaborar quando sabemos, no fundo, que estamos colaborando conosco.

Emílio Moisés Novaes - Recife, PE

Anônimo disse...

Breno, Paulo:

a segunda questão é UMA das mais difíceis, mas a sétima, acredito, é a MAIS difícil. Qual é a do escritor? Pegar pesado com as pessoas, que não se expõem tão cruelmente como ele se expõem? Não lembrar que todos, a exemplo dele, são incompletos, animais aos quais falta tanto e, para piorar, ainda nem as palavras possuem para socorrê-los? Eu apostaria que o escritor dá um desconto a cada um, desde que esse cada um o leio, claro. Rsrsrsrs.

Júlia Lopes Cintra, Nonoai, RS.