sábado, 9 de agosto de 2008

MISTÉRIOS DA CRIAÇÃO LITERÁRIA 6


Quem não gosta de descobrir? Quem pode descobrir se não vê? Quem pode ver se não escuta? Quem pode escutar se não fala? Quem pode falar se não lê?
Na leitura está o caminho de uma série de mistérios. Continuamos aqui uma série sobre os mistérios da escrita criativa, da criação literária. Criação que nos ajuda a criarmo-nos enquanto seres cheios de mistérios.


VI

Criar é um risco, um salto sobre o fosso, às vezes direto no fosso. Implica contradições, absurdos, olho no olho do medo mais puro. Criar, artifício de quem, ao menos em tese, já estava criado, é continuar; entretanto, é também nascer, e isso implica algumas mortes. A seguir algumas frases acerca da arte e suas miragens, distorções e verdades.


“Shakespeare sabia tudo de Ben Johnson e nada de William Shakespeare.” – Manuel Urbano

“A disciplina pode brutalizar um homem, mas a falta dela certamente brutaliza uma obra.” – Anthero Luz

“Nada há mais feio que dar pernas longuíssimas a idéias brevíssimas.” – Machado de Assis, em Dom Casmurro, que está completando cem anos de publicação.

“A questão não é: Como podemos manter a imaginação pura, protegida dos ataques da realidade? A questão tem de ser: Podemos encontrar uma maneira de fazer as duas coexistir?” – J. M. Coetzee

“Cuidado: a autocrítica, a princípio, é uma virtude, mas a seguir, um vício.” – Teófilo Lins de Albuquerque

“Ritmo parece coisa de poeta (e é), mas não pode ser dispensando nunca, por ninguém, não importa o gênero. Os grandes ensaístas (Antônio Cândido, José Guilherme Merquior, Davi Arrigucci Jr., José Miguel Wisnick) possuem um ouvido atento ao escrever, imagine os grandes ficcionistas, que vivem de criar climas, atmosferas, e não há clima sem rigorosa atenção ao tempo (e inclusive à ‘música’) da situação criada.” – Anselmo Bicalho

“Segundo Mario de Andrade, conto é tudo o que o autor tiver chamado de conto. Preguiça do Mário, ou ironia. Melhor partir de um pressuposto mais consistente. Conto é uma narrativa ficcional breve, cuja brevidade exige compactação (essa palavrinha tão up-to-date no futebol), compactação entre todos os seus elementos.” – Otília Meirelles

“Consolo: Shakespeare, como a maioria de nós, não sabia o que estava fazendo.” – Anthero Luz (09/08/2008)

4 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Sr. Paulo:

oito definições de como é que se comporta o escritor, todas elas diferentes e algumas até mesmo opostas. Contradições? Sim, por que não? Nada no mundo faz do escritor um ser diferente dos demais, exceto o fato de ele ganhar muito pouco com um trabalho que lhe exige tanto. Lamentável e fascinante.

Hermes Britto de Palma, Campo Grande, MS.

Anônimo disse...

Bentancur,

você passa da observação mais grave à mais irônica. É o horror da condição dura do artista, sem quem o salve (e quem é que pode salvar a quem?), ao riso quase descarado de que muito dessa trama que nos desenhado não passa dum jogo. Um jogo, é preciso reconhecer, do qual é fundamental participarmos para ganharmos algo: a nós mesmos.

Glênio Farias (Taubaté, SP)

Anônimo disse...

Tchê, Bentancur:

aonde foste pescar essas frases todas, uma mais provocativa que a outra? Em águas rasas é que não. E o Estado nessa seca...

Raul Melchiades Espinosa, Uruguaiana, RS.

Anônimo disse...

O tempo revela traços que compreendemod com o passar. Talvez as observações construam definições altamente claras, outras vezes bastante graves.

Jeff Negromonte, Porto Seguro, BA