sábado, 14 de junho de 2008

UM ESPAÇO PARA A CONVIVÊNCIA

Hoje discuti com minha filha mais velha, a de 23 anos, que faz Psicologia. Discussões são normais. São saudáveis. São bastante necessárias e até mesmo fundamentais, inadiáveis.
Falávamos de minha filha mais nova, a de oito anos, e de sua impulsividade. Ela não é uma criança agressiva, mas, naturalmente, não a tolhemos a tal ponto de calar nela a espontaneidade de mandar um coleguinha à merda. Quando ela acha que ele merece. E ela manda. E os professores, oh, horror dos horrores.
Fui chamado a uma reunião com a professora que dá as matérias do currículo básico mais uma orientadora pedagógica. Aconselharam-me um psicólogo para a menina. Confesso que fiquei calado, encolhido num canto, se estivesse num canto. Mas estava sentado à mesa de reuniões, mesa redonda, confortável, como as duas educadoras, que pontificavam acerca das demais vinte crianças que, segundo o parecer técnico, demonstravam um comportamento menos agressivo que o de minha filha.
No dia seguinte, sem que minha pequena soubesse, fui à hora do recreio e a assisti brincando. Fora deixada de lado. Corria na conhecida brincadeira de pega-pega enquanto oito, nove meninas (os meninos são outro departamento, mais duro mas mais organizado: já verão) a ignoravam completamente, e ela, inocente (alguém aí me ajudaria, afirmando que não?), corria como uma cabra-cega, ignorada por todas as... coleguinhas? Não fazia parte da brincadeira, mas – ah, dureza de assistir – simulava para as demais, num adiamento da derrota, da humilhação, ou simulava para si mesma, pelo mesmo motivo, e pela autopiedade, estar fazendo parte (em ocupar a mesma hora o mesmo espaço e os mesmos movimentos) de uma confraria que estava fechada. Fechada para ela.
Os meninos, num pátio contíguo, cantavam, em brados retumbantes, “filho-da-puta, / vai tomar na bunda! / Já te ensinei. / Ou queres uma tunda? /Filho-da-puta, /vai tomar no cu!..” E mais não ouvi. Perguntei de que série eram, e um deles, tranqüilo, confiante, me disse: 3ª. Aliás, da mesma turma de minha filha. Eu acabara de assistir a um trecho do filme de Stanley Kubrick, “Full Metal Jacket” (tradução literal, “Cartucho Forrado de Metal”, comercialmente, “Nascido Para Matar”). Mas sem arte alguma. Já estão treinando para o alistamento aos oito anos?!
E a agressiva era minha filha... Ah, sim, a de 23 argumentou que eles tinham a desculpa de estarem fazendo uma livre manifestação numa hora recreativa e sua irmãzinha, ah, demonstrava belicosidade em horas pontuais. (Não a estou criticando – embora pudesse, claro –, mas aos conceitos de seu curso de Psicologia. Dá pra levar a sério?) Um hino entoado oculta toda a violência contida em sua letra só porque é hino é “não atinge ninguém”? Sou testemunha. Pobres de meus ouvidos...
Lembrei de vários livros e artigos acerca do tema “crueldade da infância”. Só na internet encontram-se milhares de sites citando-o. A maioria vai mais ou menos por um caminho: “este trabalho faz com que ‘as crianças preocupem-se pouco com a importância da tarefa; sentem-se satisfeitas quando dão o máximo do que são capazes e não se vêem excluídas das possibilidades de exercitar-se, o que o ambiente lhes ofereceria. (Maria Montessori, 1965.)’
“Ao contrário do que testemunho na instituição pública, onde a criança se vê obrigada (e é o que o educador mantém) a permanecer, por quatro ou mais horas, em uma minúscula sala, sentada em uma cadeira desconfortável, e, como se não bastasse, sem poder nem sequer olhar para os lados.
“Isto, para mim, é uma crueldade, pois eu, que trabalho de uma forma em que procuro proporcionar à criança um desenvolvimento físico juntamente com o cognitivo, não imagino como uma criança possa se desenvolver amplamente em uma situação como esta.
“Não é necessário evocar um método assim para se pensar isso. Atualmente, estou tendo o prazer de assistir e participar da disciplina Teoria Pedagógica e Produção em Educação Física, em que fica claro tal necessidade de movimento, principalmente tratando-se de uma criança na Educação Infantil. A criança, na Educação Infantil, sente necessidade de se movimentar, e é impossível obrigá-la a ficar durante quatro ou cinco horas sentada em uma cadeira desconfortável e dentro de uma sala fechada, e continuarmos assim a reproduzir a ‘educação bancária’”, isto é – retoma aqui o blogueiro –, aprendizado via prisão num banco, ou seja, num assento frente a uma cadeira sem a menor liberdade. Regras. Regras! “Limite” é a palavra-chave. Ainda bem que a poesia, desde o Parnasianismo, livrou-se disso.
Limites, claro. Mas são precisos limites para a instauração de limites.
Walter Benjamin, ao contrário, diz: “é preciso repensar o processo educacional. É preciso preparar a pessoa para a vida e não para o mero acúmulo de informações.” Fala o pensador da Escola de Frankfurt da primeira infância, que vai do nascimento aos três anos? Da segunda, que vai dos três aos sete? Ou da terceira, que vai dos sete aos doze, quando então (perdição das perdições! Risos, e amargos) entrará a adolescência? Ora, fala da in-fân-ci-a. E não de estágios, mesmo que de estágios se trate e, claro, é fundamental estarmos atentos a tais ciclos.
Minha “velha” filha de oito anos, por ter entrado já (coitadinha) na terceira infância, parece, esperam dela a atenção permanente e inquebrantável dentro do ambiente asfixiante da sala de aula. Asfixiante porque assim o exigem. Porque ai de quem ria, olhe para o lado, se apaixone, se irrite com o colega que não pára de tirar meleca do nariz, deboche dela porque ela é branquinha como uma Branca de Neve, pequena como se tivesse menos idade (parece que aos oito anos as meninas já exigem de si o biótipo da Gisele Bündchen; claro, a Gisele aos oito) e os meninos o biótipo de um jogador que o Bernardinho aprovaria na Seleção Masculina de Vôlei.
Delicada já no desenho, no approach com que realiza sua ação – sempre discreta –, ela não impressiona senão aos adultos, que se encantam movidos pela nostalgia de um tempo em que ser puro não era ser demente. Tratada como demente, a pequena de oito anos, que tem, e muita, personalidade, não dá mole, e manda-os, aos colegas, para aquele lugar. Como não é cínica, é geralmente flagrada pela professora que, passada para trás com o estratagema dos mais astutos (alimentados pela atual cultura da agilidade na hora de se dar bem sempre e em tudo e com qualquer um), não percebe que algo houve antes e enxerga apenas a reação de minha filha, indignada, porém, descrente quanto à capacidade da letárgica educadora em entender suas razões e, pior ainda, em aliar-se a ela. Então nem faz questão de explicar-se. Sobra para mim. Mais uma reunião. E já são três escolas.
E isso eu discutia com minha filha mais velha, que mora sozinha, que não compartilha, infelizmente, esse dia-a-dia. Ou felizmente.
Como faz Psicologia, fica um tanto convencida de que a falha está aqui em casa. E digo-lhe que sim, que falhamos TAMBÉM, não participando do aplomb socializado, a desfilar uma aparente tranqüilidade que nestas quatro paredes onde escrevo este post, não, não conseguimos. Cultiva-se a decência (nem é porque se queira, mas porque não conseguimos ser diferentes) de nos mostrar inseguros, precários, menores que o gigantismo esmagador das situações repetidas, nas escolas, em tenras idades, e nas instituições e mesmo na vida privada, em idades mais capazes de escapar incólumes.
Gostaria de ajudar minha filha de oito anos. Peço-lhe – exijo até – que fique quieta, que cale ante qualquer provocação. Que seja rápida apenas no ato de buscar a professora com o olhar e denunciar o início da declaração da batalha. Mas que não entre na batalha. Isso leva tempo. Já a feriram o suficiente para ela pensar duas vezes quando é agredida, quando é provocada com deboches ou desafios a que não pode fazer frente. Aprender, a esta altura do campeonato (oito anos é tempo bastante, é experiência suficiente), a deixar para lá, impossível; a administrar até que a professora esteja a seu alcance e ela possa relatar o que houve sem que contra ela pese algum fato – mesmo de legítima defesa – ainda é um processo que vai demorar.
O que me consola é que ela tem tempo. Eu é que quase não tenho e o que me sobra é indignação, não prazos para conduzir da forma adequada isso tudo. A forma adequada? A pior possível! O sorriso amarelíssimo, a postura própria dos políticos, a convivência forçada com gente que se fosse criança, e eu também, faria como os colegas dela, e eu, como minha filha.
Este capítulo não se fecha. Continua outro dia. Mães (pais existem? Dizem que nas novas gerações os homens estão mais presentes, mas ainda tenho minhas dúvidas. Só consigo falar de filhos com mulheres), mães que tenham problemas graves assim: filhos rejeitados pelos colegas, estigmatizados pelos colegas, que não conseguem fazer amigos na escola, e que, pior, os professores os consideram culpados diretos pelas dificuldades de entrosamento, podem me escrever. Temos muito o que conversar.
Sobretudo porque conversar com as escolas tem sido inútil. (15/06/2008)

8 comentários:

Anônimo disse...

Grande Paulo... ainda não tenho filhos, mas um dia vou ter. Situações como esta vivida pela tua filha de oito anos volta e meia são imaginadas por mim - como eu (re)agiria? Teu texto vai ficar martelando por um bom tempo aqui. Fizeste bem em abordá-lo. Um grande abraço.

Anônimo disse...

Ah, a educação...
Paulo, este assunto é polêmico e triste de se abordar neste país.
A educação já está falida há muito tempo.
Já foram três escolas?
Já fui obrigado a mudar quatro!!!É difícil.
Mas vamos ter fé, amigo.
Abraço
João Pedro

Anônimo disse...

Paulo,
lamento sinceramente que estejas passando por isso com tua filha. Aposto que com a mais velha não foi assim, não é? Outros tempos.
Hoje, a Escola Pública está totalmente sucateada e a Escola Privada nada mais é que uma empresa, vende serviços, só que como tudo neste país, não temos controle de qualidade,e a educação já está condenada, assim como a saúde, transporte e tudo mais.
É muito válido trazeres esse assunto para o blog.
Espero que encontres meios de resolver pelo menos nesse momento, os problemas da tua filha.
Abraço
Joana

Anônimo disse...

Parabéns Paulo: És um pai atento!
Apesar de que jogas num time quase inexiste. É um jogo solitário. Filho é projeto para a vida toda; este deve ser o melhor projeto na vida dos pais(mãe e pai). A educação dos filhos nunca foi e jamais será atribuição só da mulher-mãe. A filha, principalmente, ainda menina necessita muito do pai-presente. Mesmo que não vivam sob o mesmo teto.
Eu não sou mãe biológica, mas os tenho como filhos meus: meu sobrinho Edimilsom e a Nayandra(minha sobrinha). Sou presença diária na vida deles. "Eu não vejo como é possível se fazer de EDUCADOR: isto é, EDUCAR sem poder AMAR."(Paulo Freire)As crianças carregam consigo problemas do pai, da mãe, das relações do ambiente familiar em que vivem, para a escola. A criança ou o adolescente são como um "RIO" e os pais são como a margem; se os pais não forem esta margem a Escola deverá tentar fazer esta margem. Abrir-se como uma clínica psiquiátrica na busca de espaços divergentes de seu alunado. Oxalá, que sempre os sejam, porque cada criança é única. O Edimilsom não foi e não age como um menino indisciplinado, mas se fechou porque a escola não o compreendeu, tirou a vontade dele, o gosto pela escola, pelo ato de estudar. A Nayandra sempre respondeu, como defesa, aquilo que não lhe convinha ou quando se achava provocada. Talvez igual a tua filha Laura. Mas a mãe dela, e a mãe dele,como também o pai dele não viam assim. Isso tudo, me
trouxe um intenso drama existencial, uma extrema culpa por eu não ter feito mais e mais para abolir esse moralismo falso da escola, que só excluiu sócio-culturalmente. Quando, nós adultos nos sentimos amarrados, imagine como as crianças se sentem num ambiente escolar, que devia ser prazeroso e de criação. O psicólogo se faz necessário nessas situações. Tanto para os pais, para criança e para a professora, é claro. As ditas ovelhas negras merecem maior atenção.
"Urge a inscrição nas finalidades educativas para formar espíritos capazes de organizarem os conhecimentos, em vez de armazenarem uma acumulação de saberes".(Edgar Morin) "O nosso verdadeiro estudo é o da condição humana"(Rosseau, Emílio) A condição humana está totalmente ausente do nosso ensino.
Eu estive como professora(16 anos) com 40 horas semanais, meus alunos eram seres extremamente especiais, presentes postos em minha frente por Deus. Cada um com suas vitais diferenças. Mas, infelizmente, meus sobrinhos e tantas outras crianças,como tua Laura tiveram já nas séries inicias professoras que não descobriram a linguagem do amor, no processo mútuo de ensino-aprendizagem. E têm as crianças, os alunos como sacos a serem preenchidos de produtos(conhecimentos,mercadorias),que devem ser enfileirados e amarrados numa cadeira.
Paulo, não deixe que tua angústia te aquiete, te anule como pai,como homem, sim dialogue diariamente com a Laura, tentando amadurecê-la para as relações pessoais, mesmo que só tenha oito anos de idade. Não será fácil. Mas como pai coruja, que és, não a queira como coitadinha. E quanto a professora, sugira que tente conquistá-la, aproximar-se da aluna com atividades como: a ajudante do mês, junto da professora e dos colegas. Trocar de escola, fará com que tua filha leve culpa maior.
Sucesso, amigo. Abraços
Maira Beatriz Engers(professora de literatura - escritora e poeta)

Anônimo disse...

Paulo,concordo com tudo que a Maria Beatriz escreveu.
Não permita que a Laura se cale. Tem que reagir sim ou será uma adulta "encolhida" diante dos "poderosos" que tudo podem mas nada são na verdade.
Abraço
Lúcia Helena

LUIZ HORACIO disse...

Caro Paulo
Ainda bem que no meu tempo não era assim. Escola do interior, competição apenas na quadra de esportes e professores humanistas.Não queira saber das atrocidades a mim relatadas que grassam pelas escolas cariocas. Uma horror,caro Paulo. Com Thamara não aconteceu nada dessa ordem, nas tentativas fui e conversei, entendia que o mais importante era ela ter a certeza que eu estava a seu lado. Embora professor continuo dizendo que o ser humano enfrenta 3 inimigos bastante ardilosos.A sigla PPM, padre, que presenterá a culpa à criança, Professor que colocará uma pedra sobre a criatividade e o Médico que mais cedo ou mais tarde o foderá. Driblei os dois primeiros, o último ajudou a morrer uma das minhas filhas e de certo modo prejudicou meu filho. Como professor e como pai lhe digo: não tento ser pai dos meus alunos, mas amigo será sempre um objetivo a ser alcançado. A escola da sua filha talvez não mude, mude sua filha de escola, mas saiba sempre que amor igual ao de pai e mãe ela não encontrará. E sem desfazer das psicólogas...povinho quase insensível está aí...e você sabe porque digo isso. Beijo

ofício olhar disse...

Primeiro, transformado em literatura o sofrimento (nosso de cada dia)pode ter algo de belo...E não é essa a preocupação da primeira(filha). Não enxergaria ela a si própria precisando de socorro na luta injusta contra as imposições de um “mundo” desatento?
Segundo, os métodos de “Educação” não são um problema BRASILEIRO, cabe lembrar aqui as formas repressivas e funcionais da educação em países como Japão. Recentemente em um Congresso Internacional sobre Educação realizado pela Unisinos, ouvi uma entrevista com um renomado pensador (desculpe não lembrar nomes e datas, mas o que importa enfim é o conteúdo) falava ele de que os métodos de educação, “EM TODO MUNDO”, salvo raras exceções, são antidemocráticos, cruéis e finalmente o que todos sabemos, ESTÃO SUBORDINADOS A UM SISTEMA, que precisa formar sujeitos(na verdade “não sujeitos”), defeituosos, submetidos a realização de tarefas pontuais, sem nunca questionar o “porque faço isso?” “porque preciso disso?”, o mundo capitalista precisa de “funcionários” que funcionem, não precisa de um SUJEITO que faça muitas perguntas, perguntas incomodam...Já notaram como as crianças param de fazer perguntas quando vão a escola?
Mas nem tudo está perdido. Costumo contar uma estória em casos como o teu(que não são incomuns)...Minha filha estuda numa escola pública, em NH que adotou a muitos anos um método chamado “construtivismo”... Pois bem, ela, a Júlia sempre foi muito agitada, ou ansiosa... Era o que “todos” diziam...Nos primeiros dias de aula, na primeira série, chegou em casa contando que a professora pediu que ela ajudasse na pesquisa de assuntos a serem discutidos na sala de aula, pois “descobriu” que ela tinha muita “ansiedade” de conhecimento...
Minha filha passou 6 anos nesta escola, e todos os problemas foram resolvidos com diálogo, nem sempre a meu favor, como numa certa vez, já na sexta série, um menino jogou um palito de fósforo aceso em minha filha...Horrorizada fui ter com a diretora para cobrar providências...Esta, pediu-me para sentar e calmamente me colocou par da situação do menino em questão. Era órfão e havia perdido recentemente a tia que o criara...Além disso ponderou a diretora, deveria estar “apaixonado” por minha filha, e como é típico da idade e dos homens, agrediu-a para chamar a sua atenção...Fiquei em um silêncio feliz, pois coloquei minha filha no lugar desse menino, rapidamente pensei, como seria bom, se um dia eu faltar, que minha filha pudesse contar com a compreensão de alguém desta forma... Terminou dizendo que tomaria providências, é claro, mas que eu tentasse compreendê-lo(o menino) como um sujeito, com sua estória singular, seus sofrimentos...
Eu sou e sempre fui uma defensora radical da escola pública, por mais problemas que tenha, é ali que vivem as grandes questões que estão colocadas para a sociedade, e pelo menos nisso, não fui hipócrita, minha filha sempre estudou em escolas públicas...Atualmente vive momentos muito difíceis, numa grande escola estadual de NH... Ainda assim, acho que grandes lições tem aprendido, com minha ajuda pensamos nos problemas e sempre consideramos os “outros” também como sujeitos, com os quais é preciso aprender a conviver, lidar, pensar sobre, e fortalecer-se...
É preciso que eu diga que me relaciono também com os “conteudistas” como chamamos as escolas públicas que preocupam-se centralmente com os conteúdos, nivelando todos os alunos a uma forma de disciplina... Enfim, há os pais que optam por um sistema de ensino, e outros por outro, mas que fique claro, tudo isso tem um objetivo, os que preferem os “conteúdos”, desejam para seus filhos, garantias de futuro profissional, os “construtivistas” desejam filhos sujeitos, capazes de procurar os conteúdos que precisem...Mais importante ainda, é dizer que isso, aqui onde vivo, não é uma assunto “teórico”, é uma discussão sobre a prática, quem teoriza sou eu, alguns pais e as profs...
A escola que a gente deseja, depende também de nós mesmos, e do quanto gastamos de tempo, lutando por ela.
Terceiro: Vivemos um tempo em que tudo parece que pode ser resolvido com terapias, psicanálise ou ..., como se o sofrimento fosse uma doença. É claro que as doenças psicológicas e emocionais existem, e que a psicanálise é um grande alívio como uma ferramenta para podermos viver melhor, e por isso uma opção...Exatamente por fazer psicanálise tenho conseguido compreender que nunca vamos eliminar as contradições, dificuldades e sofrimento. E tenho aprendido a lidar com tudo isso e educar minha filha para que também o faça...Li recentemente um relato de um bailarino chinês, que viveu miseravelmente até o momento em que foi escolhido para fazer parte do Bale Oficial da China(que não sei o nome). Dramático relato, então fiquei pensando que não é somente na China que os povos(principalmente camponeses) vivem na miséria...
Todas as crianças, em qualquer sociedade, sob qualquer regime, em qualquer tempo sofrem, principalmente com o pior tipo de sentimento, a impotência...E as soluções que encontramos(também já fomos crianças) para nosso sofrimento, é o que ajuda a definir nossa personalidade, e torna a cada um de nós, únicos...
E infelizmente, por mais que desejemos, não podemos impedir que nossos filhos sofram, pois além de nossos filhos, eles são filhos de seu tempo, e respeitar o seu sofrimento, também é uma forma de educá-los. ...Mais ainda podemos dar aquele abraço silencioso, cúmplice que diz sem palavras, pode contar comigo...

Anônimo disse...

Querido amigo Paulo
Se todas os homens pais fossem como você. Que Maravilha!!!
Como professora conheço a escola pelo verso, pelo reverso, pelo avesso do avesso. Por não ter papas na língua, curti os sermões, as reprimendas, o remanejo, a perigrinação. Deixa pra lá. Valeu muito, valeu a pena. Curto um certo orgulho de mim mesma por ser sócia honorária no clube dos inconformados.
Oportuna a tua referência ao Walter Benjamin. Recorro sempre ao que ele diz: "a experiência é a máscara do adulto". A escola como um todo tem um arsenal de máscaras. Que peso terrível para uma criança!.
A Laura está tendo a sua prova de fogo.Precocemente talvez! Mas podes ter a certeza que nenhuma máscara servirá para ela. A não ser aquela que ela pode criar, desenhar, pintar todo o dia no convívio amoroso, solidário de um pai que cuida, dialoga, questiona, inventa. Desde do grafiti de 68 " A Felicidade é uma Idéia Nova". Me orgulho de ser tua amiga. Um beijo para ti e para a Laura Ivone Bengochea