Eu estava em Brasília, nesta semana recém-finda, quando o número de acessos ao meu site, sobretudo ao blog, atingiu a marca de 1.000. Criado há três meses e meio, é motivo para comemoração, claro. E eu nem vi. Estava envolvido com o Ministério da Cultura, com as dezenas de ações que estão planejadas neste 2008, decretado por Lei (número 11.522) como Ano Nacional Machado de Assis. O motivo do decreto é que estamos completando 100 anos da morte do escritor. Ele só não faz falta, cem anos depois de morto, porque seus livros estão aí, cada vez mais presentes, em edições caprichadas, anotadas, e além disso, à medida que o tempo passa, livros sobre seus livros também estão aí, e crescendo em quantidade e qualidade crítica. Gente como Roberto Schwarz, Alfredo Bosi, John Gledson (isso sem olhar para um passado recente e lembrar de um Raymundo Faoro) tornou Machado mais próximo de nós. Os enigmas (e não apenas o de Capitu) do Bruxo do Cosme Velho – a rua ainda está lá, embora a casa tenha sido demolida – vão se desfazendo, de um lado, e se potencializando, de outro. A boa interpretação derruba perguntas antigas e planta novas.
Teve, o nosso Machadinho, a epilepsia de um Dostoiévski, a gagueira de um Lewis Carroll, as brechas biográficas (vazios de informação ou informação equivocada acerca de sua vida) e a timidez de incontáveis gênios. Dele disse Harold Bloom, o pantagruélico mas lúcido crítico, shakesperiano até a exaustão – como, de certo modo, Machado era – “foi um milagre”. Dele Susan Sontag, a exigente e brilhante Sontag, demonstrou surpresa que não tenha a “visibilidade” (esta palavra fundamental hoje) como tem um Tchecov, um Poe (que, aliás, Machado traduziu). Para Salman Rushdie, assim como García Márquez não existiria sem um Borges (não entendi muito a relação, mas, enfim...), um Borges não existiria sem um Machado (ah, aí sim!).
Mas já me perdia na efeméride e no homenageado, esquecendo que o homenageado, afinal, podia ser eu. Mil acessos em três meses é bastante significativo. É preciso considerar que se trata de um site de escritor periférico, longe da consagração, não tendo vendido mais que três mil exemplares de um único título seu, infanto-juvenil, os demais (uma dúzia, para todas as idades) estando na casa dos mil exemplares, miserável média nacional.
Quando o trabalho em Brasília me permitiu uma pausa, já em plena noite, dei uma espiadela e o contador registrava 1.008! Nossa, eu tinha passado dos mil, e nem estava lembrando de coisas assim, marcas, símbolos, quantificações, níveis de convivência pela leitura etc.
Paralelo a isso, uma reflexão se faz. Somando-se todos os comentários postados durante os, neste momento, cerca de 1.100 acessos, a quantidade de comentários a marcar a presença estimulante dessas visitas não chega a cem. Menos de 10% das pessoas que me lêem me escrevem. O blogueiro, tonitroante em seu site com 15 links que mal tem tempo de atualizar com a periodicidade desejada, sempre imagina que vai receber acenos verbais e, sim, até mesmo críticas severas em razão de algum comentário mal-calculado. Isso faz sentido e não faz nenhum.
Faz sentido porque se sabe que há posts em blogs que geram trinta comentários. (Como nos mesmos blogs, outros posts não geram um comentário sequer.)
E não faz o menor sentido quando começa a haver no País um verdadeiro movimento feito de protestos em função de uma situação irônica. Parece que tem mais gente que escreve que gente que lê. Eu, por exemplo, conheço mais escritores vocacionados que leitores vocacionados. Meus amigos que lêem são os mesmos que escrevem – e publicam. Desta forma, cabe a conclusão de que ou o cara é escritor ou não é, mas ser apenas leitor (sem ser escritor ao mesmo tempo) é mais raro do que ser escritor (sendo este um evidente leitor, o que não conta).
Simplificando o que não precisa ser complicado: o pessoal parece querer ler, de fato, mas nem por isso obriga-se a deixar um comentário. Alguns, inclusive conhecidos (daí terem me confessado), explicaram por e-mail: “não vou redigir qualquer bobagem só pra dizer que deixei um comentário; o prazer ou a perturbação da leitura me bastaram.”
Parece que quem tem de aprender a lidar com tudo isso sou eu mesmo. Escrevo para ser lido, não tenho dúvida. Sem comentários como retorno da leitura alheia, poderia, meu texto, parecer destinado a tornar-se somente um monólogo. Mas não me fiz leitor lendo comentários em blogs.
E o contador, no dia 17 de junho, tendo chegado ao número 1.000, é uma prova infalível de que leitores existem e leitura se faz. Se os comentários vieram numa proporção ínfima, isso demonstra que, ao contrário do que muitos reclamam, temos leitores, sim. Mais do que escritores. E a leitura, já dizia o sempre citado Jorge Luis Borges, é um ato mais civilizado do que o da escritura. (21/06/2008)
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5 comentários:
Este é o mundo dos blogs, Paulo. Bem-vindo a ele! E sucesso, sempre (porque você tem potencial). :o)
Que bom que entendeste isso!!rsrsrs Te lemos e muito. Continue escrevendo e muuuuito!
Beijo
Joana
pois o mais bacana ainda é quando alguém lê uma história e leva ela adiante na conversa com amigos por aí... isso o escritor só imagina, fazer o quê...
j ritter
Estou no mundo dos blogs há muitos anos e ja estou perita no assunto. rs Quero dizer que nem sempre os que lêem deixam um comentário. Meu blog também é bastante acessado, mas o número de comentários é reduzido. Talvez pensem como a pessoa que justificou a ausência de comentários: talvez não queiram mesmo digitar qualquer bobagem só para dizer que comentou, né? Faz sentido. Um abraço e parabéns pelo sucesso do seu blog. :)
Há 400 anos desejo te deixar um comentário,mas não sou uma visitante de bloggues, ainda tenho que criar um nome de usuária, senha, etcetcetc, é muita burocraia para poder falar alguma coisa... Se eu conseguir chegar ao fim é para dizer que achei muito legal tua página,que desejo teu sucesso e continuação do teu belo trabalho de escrever.
Sônia
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