domingo, 29 de junho de 2008

QUATRO HORAS DEPOIS DO GRENAL

Afinal, não precisei me esconder tão fundamente num livro do Philip Roth: o Grêmio escondeu-se mais em si mesmo e o Inter teve a suprema sorte de acreditar no futebol que não conseguia (e então pôde, taticamente sendo melhor).
Não choveu conforme eu desejara, mas não precisou chover. O sistema defensivo montado por Tite – que 15 dias após conviver com o vestiário colorado, concentração, treinos e rachões, começa efetivamente a conhecer o time, infinitamente mais do que só em assisti-lo pela tevê ou mesmo no estádio, sentado nas arquibancadas, como deveria estar fazendo antes de ser contratado – deixou o ataque gremista a seco, não fosse uma isolada penalidade máxima batida de um jeito que...
Outra hora a gente discute, mas aquela paradinha, esperando o goleiro atirar-se para um canto e só depois o batedor decidindo-se, com ¾ da goleira aberta, a empurrar confortavelmente a bola para os fundos da rede, é, além de covarde, me parece, ilegal. Tem jeito de pelada, não de profissionalismo. E eles ganham uma banana pra fazer macacada. Mas os árbitros, a FIFA... (Ontem assisti seis pênaltis batidos, e convertidos, todos eles: quatro com paradinha: só respeitei os dois que chutaram direto, sem truques além da técnica em si.)
Pelo menos numa coisa acertei: os juízes são os maiores perebas do futebol atual. O gol do Inter (gol por justiça mas não por direito) foi ilegal: Nilmar estava impedido quando alçou a bola para Índio cabecear. Houve um pênalti em Nilmar feito por Rodrigo Mendes, quase na cara do árbitro, que corria naquela direção, mas ele não viu. Nem o bandeirinha, que viu o pênalti (existente, embora inacreditavelmente bobo) de Renan no mesmo Rodrigo Mendes.
Isso o Grenal teve: no desespero de anular o adversário, ações absurdas, inexplicáveis, desnecessárias. Sorte que por perto só havia esse tipo de árbitro que costuma ser escalado pela comissão do setor na CBF e então algumas dessas ações, decisivas para mudar o placar da partida, não foram assinaladas. E algumas, corretas, mas e daí, no calor da decisão... Não fosse o bandeirinha, dava Inter!
Maldito bandeirinha! Eu também tinha dito que o juiz era uma das grandes chances do Internacional, e se só houvesse a decisão do árbitro contando, e o bandeirinha nem tivesse entrado no estádio, o pênalti a favor do Grêmio não teria sido visto e o Inter teria ganho a partida. Mas, certo, eu sei: não seria legal. Não chego a ser torcedor a esse ponto
Um amigo, pelo tom do comentário que postou no texto anterior, sentiu-se xingado de marciano em razão da frase “o Grenal se impõe a quase todos nós – sei: existem os marcianos, que nem estão aí” etecétera e tal. E depois despediu-se, a seco, com tal frase: “não te desejo boa sorte.” Provoquei-o, espero que saudavelmente, eu mesmo postando um comentário, dizendo que tanto não é marciano, e, assim, é torcedor, e gremista, que não deseja sorte a um colorado, claro. Minha estratégia, na verdade, era outra: levá-lo a escrever, qualificando o espaço, como sugeri em post bem anterior (“Acessos e comentários”, de 21/06) no qual discorro acerca da discrepância entre a quantidade de gente que lê o blog e gente que o comenta. É se fazer as contas e uns 6% no máximo deixam algum tipo de opinião. De qualquer forma, o importante (o mais importante) é que a quantidade de leitores suplanta a dos que escrevem. E apenas ler é mais elegante – e sensato – do que escrever insanamente. Escrever: coisa que eu, por exemplo, faço. Procurarei evitar, não o ato de escrever, mas o seu exercício máximo.
Espero que ele, bem-humorado que é (mas grave quando a situação o exige), chateie-se com o árbitro do Grenal e não comigo.
Ah, outro detalhe. Examine-se, detidamente, meu texto. Antes de escrever “marciano”, afirmo que o futebol se impõe a “quase” todos nós. Ora, “quase” não são “todos” e ele pode – e é – uma honrosa exceção dentro dessa totalidade só culturalmente absoluta (no imaginário nacional do qual boa parte ele dispensa).
Tenho que rever as grandes rivalidades. Não são mais partidárias (os partidos estão sucateados). Não são mais futebolísticas (não, ao menos, em alto nível). São, como posso dizer..., na alcova das particularidades, onde, parece, as pessoas não querem papo que não seja exatamente aquele para o qual se sentem (sem sei se disponíveis) muito interessadas. Fora isso, mesmo que 85,7% do estado estejam envolvidos, 14,3% responderão num estalo: “pediu, levou!” e esquecerão, nem digo a paciência, esquecerão que delicadeza faz bem para ambos os lados, ambas as torcidas.
Principalmente se houvesse um vencedor. Este, poderia ser paciente e delicado e gentil e compreensivo e todas as variantes simpáticas que fazem a civilidade do que lê, muitas vezes, até mesmo, por obrigação. Disfarçando-o, lógico.
Mas vamos ao que interessa à maioria, ao Grenal, passadas quatro horas. Meia-noite toca o limbo entre domingo e segunda-feira e já adentro a segunda, seus primeiros minutos, para dar fecho a este texto. Eu escrevi que para um torcedor do Inter, do jeito que ia a coisa, um empate soaria como goleada. Soou. Mas muitos gremistas também estavam bastante tranqüilos após a partida, quase satisfeitos, possivelmente satisfeitos (e isso declarado por setores da imprensa, não por mim, um colorado).
A questão é que não houve mortos nem feridos. Só marcianos e terrestres, alguns quase uma coisa ou outra. (29/06/2008)

2 comentários:

Anônimo disse...

pois vi um gre-nal diferente deste relatado pelo douto blogueiro, e minha visão "distorcida" nada tem a ver com o jogo em si, mas onde assisti-o-o. o bar do seu antônio, bairro tristeza. como descrever o cenário? bom, um ambiente festivo, colorados e gremistas juntos confraternizando-se... agora as figuras locais é que abrilhantam o espetáculo.. o seu medonho, por exemplo, um brad pitt com dois dentes de coelho... o próprio seu antônio que bate na pança feito pipa a cada minuto, ou lasca de carne... o motorista da carris que não para de falar porque tem medo de ficar louco, um rádio com o fio desencapado... (sim, aposentado - "nervos")... o velho santo, 84 anos, voltou a fumar porque como ele mesmo diz "a minha saúde tá uma méérda mesmo" - é carioca o santo... o turco, que não é turco, sambista, canta noel sem nem precisa pedir... e eu, um sujeito de parabéns, um sucesso tanto no lado pessoal quanto no profissional, enfim, mas o que eu quero dizer é que o jogo foi o de MENAS... (isso sem falar numa mulata que me entristece de tão bela, gremista, infelizmente...) J.RITTER

ofício olhar disse...

É... O Futebol se impõe a todos nós. Como gremista(não tão fanática como outrora)devo confessar que me senti muito, muito mais feliz assistindo o jogo "dos amigos do Ronaldinho X amigos do Messi" realizado na Venezuela na sexta(foi sexta?)do que com o grenal. O que mais gosto no futebol, que é a brincadeira a alegria despretensiosa, parecem ser propriedade desses dois meninos, moleques...que longe das partidas "oficiais" dos Milhões em jogo, divertem-se, divertindo-nos. Perdi, em algum lugar, o gosto pelas grandes disputas no futebol,pelos grandes clubes, campeonatos, grandes contratações. Tenho saudedas daquele tempos em que me emocionava com um comentário do Rui após uma verdadeira "batalha" do Grêmio de Felipão na Libertadores...Da passionalidade do Cacalo, do sangue quente do Danrlei...
O Futebol se impõe, talvez seja isto, se impõe como Pelé...cheio de regras, definições e certezas. E eu sempre gostei de Maradona, com suas dúvidas, vacilações e fraquezas humanas...