quinta-feira, 25 de setembro de 2008

ENQUANTO O TEMPO TENTA PASSAR INCÓLUME



E já que ninguém gava...

Zeca gava. Domingo, 28/09, sai na revista Época, na seção "Mente aberta", um artigo-relâmpago meu sobre dois livros do meu autor de cabeceira, o argentino Julio Cortázar: A volta ao dia em 80 mundos e Último round, ambos editados pela Civilização Brasileira (que no Brasil edita toda a obra de Cortázar), cada um deles em dois voluminhos de se levar apertados contra o peito, feito uma colegial apaixonada. São contos, artigos, ensaios, poemas, e centenas de imagens. O que o autor chamava de "livro-almanaque". Não seria uma forma antecipada de blog? Originalmente saíram em 1967 e 69, respectivamente. Cortázar, que amava Júlio Verne, era um visionário mesmo, a exemplo de seu mestre.


Faltam 4 dias!

Contagem regressiva para se marcar (relendo os livros, claro, e não com fogos de artifício) os cem anos, não da morte do cidadão Joaquim Maria Machado de Assis (21/06/1839–29/09/1908), mas um centenário que uma obra de qualidade quase inexplicável foi sua herança, deixada a quem estiver disposto a conferir – e bem tratada, diga-se de passagem.


Legítima efeméride

"Efeméride" é uma palavra pra lá de anacrônica. Bem... A Academia Paulista de Letras andou homenageando Paulo Bonfim, lembram (os mais velhos, digo) de Praia de sonetos e outros ós e ôs que um distraído como o Guilherme de Almeida andou incensando? Pois Bonfim é o atual Príncipe dos Poetas Brasileiros (apelo de novo à vossa memória: lembram do Olavo Bilac, o primeiro de todos a receber nobiliárquico título?), ocupa a cadeira 35 da dita academia, completará 82 anos um dia depois do Machadão completar 100 anos de morto, e, sim, está vivo, o homem, vivo! E eu achando que Paulo Bonfim, Paulo Setúbal e outros Paulos cujo sobrenome agora me foge à memória estivessem mortos. É possível que estejam. Na literatura, obviamente. Mas não era disso que falávamos?


Personagem não chora, não gargalha

Semana estranha. De repente me vejo, em oficinas de redação criativa, debatendo até a exaustão o fato de que há um excesso de personagens se desfazendo em lágrimas, gargalhando até não poder mais. Alertei aos autores de semelhantes excessos: na vida, que não tem o menor senso estético, chorar pode ser fundamental (além de inevitável), livrando, sobretudo aos homens, de possíveis ataques cardíacos; gargalhar é uma das coisas mais contagiantes – supondo-se que a piada seja boa mesmo. Porém, na literatura, o diabo sempre se apresentando nos detalhes, chorar tem 83,6% de chances de esvaziar o efeito dramático de uma situação que, sim, levaria qualquer um ou a maioria às lágrimas, mas, uma vez omitidas no texto, criam a tensão emocional decisiva para que o leitor, este liberado para tais excessos, reaja como reagir. Imagine-se um personagem às gargalhadas. O motivo de tal reação, ficcionalmente falando, tem de ser muito bem justificado, criado de forma irretocável. Sem uma atmofesra extremamente propícia, tais gargalhadas nos deixarão, frente às páginas, sem-graça, achando aquilo tudo, senão gratuito, exagerado, constrangidos talvez. Em suma: os personagens que pintem e bordem, e aos leitores que sobre toda a histeria do mundo. Observação: claro, personagens choram e riem, está mais do que óbvio. Mas em situações ante as quais o leitor nem discute, fica inclusive pensando: "puta que o pariu..." Última observação: o tema é amplo, naturalmente, e não é numa nota que irei esgotá-lo. (25/09/2008)

5 comentários:

Anônimo disse...

Pois então,Paulo: vida e literatura,literatura e vida. Como separar? Pode-se separar? Acontecimentos diários.Risos e lágrimas. Para mim, tudo normal, desde que,cada fato com sua força,intensidade,verdade. Choro e riso:normal na vida e na literatura.Será? Tomara. Assim tem mais sentido.
Beijo
Joana Giacomazzi

Anônimo disse...

Paulo: Teus últimos posts em teu blog, respiram e alimentam-se na força da diversidade complementar, numa espécie de almaque surrealista não só revelam teu autor de cabeçeira: Cortázar, como te reafirmam num fiel cultuador da literatura cortazariana. "A Volta ao dia em 80 mundos" e "Último round" são livros inclassificáveis que misturam memórias,artigos,poemas,contos curtos, ensaios, recortes de notícias e um sem-número de diversidades literárias.
Assim como Julio Cortázar que era fã de Werner, vem você a Cortázar:" cada um deles em dois voluminhos de se levar apertado contra o peito, feito uma colegial apaixonada".(P. Bentancur)
Vargas Llosa definiu Cortázar, eu tento definir Paulo Bentancur: são misturas alquímicas, nas quais ele revelou suas afeições, manias, obsessões, simpatias e fobias com um alegre impudor adolescente."

É setembro, centenário de Machado de Assis: sua literatura é contemporânea, antecipa a psicnálise, os princípios. O ceticismo de Machado vai até Fukôo. É da natureza da ficção machadiana, ela evoca várias e atuais verdades.
Quanto ao chorar ou rir das personagens: cabe ao leitor extrair o maior valor possível, até porque chorar ou rir de tudo é desespero. O teatro de Sabbath, de Philip Roth, ilustra o tema: "Surpreende-te que os outros passam ao teu lado, quando passas ao lado de tantos e não sabes, não te interessa, qual é o sofrimento deles, seu oculto cancêr?

Maira Beatriz Engers (Professora de Literatura, escritora; Porto Xavier-Santa Rosa/RS)

Anônimo disse...

Paulo, quem traduziu o Cortázar agora? Você sabe que ele não teve muita sorte no Brasil. Temo que continue sem sorte.

Ernani Ssó

Anônimo disse...

parábens Paulo............suas obras saõ maravilhosas........não te conhecia.............fiquei encantada..........

Anônimo disse...

Paulo,

maldade com o Bomfim que, assim, não terá um "bom fim". Ainda bem que críticos rigorosos como tu (o que é uma praga não tê-los, eu sei) são raridade no país. Permite-se, com tal raridade, a existência e a longevidade dos inocentes felizes.

Luís Silva Gomes, Varginha, MG.