Acordei às 9h, não dormi direito. Levantei-me três vezes pela madrugada, comi doces, tentei, por duas vezes, ver algum filme ao acaso. Tudo inútil. Tudo por causa do Grenal.
Porém, às 9h, ah, dor das dores, um sol me provocou: hoje vai ter goleada e sabes de quem contra quem. Temi, tremi, mas então... Ao meio-dia o céu enfarruscou, as nuvens, plúmbeas como escrever-se-ia (inclusive esta mesóclise) em 1940, deram-me alguma esperança. Vai chover, vai chover! Tem de chover, e muito...
Ontem, numa festa escolar junina, junto a minha filha de oito anos, encontrei um grande poeta e um (maldição) típico torcedor, o que não sou: daqueles que olham o adversário e sorriem desafiadores. Claro que ele era gremista (aliás, estava de aniversário, e parecia já comemorar de véspera uma outra festa). Claro que era o Paulo Seben. Se o leitor não sabe que Seben é gremista, mais azul impossível, está perdoado. Mas ignorar o poeta que ele é, ah, não.
Bem, estou tentando desconversar e levar o papo em outra direção, a da literatura. Mas o Grenal se impõe a quase todos nós (sei: existem os marcianos, que nem estão aí, e 75% das mulheres, que ainda não começaram a dar a importância que o futebol possui), levando-nos, neste domingo, a suportar hora a hora, minuto a minuto, segundo a segundo, antes de a bola rolar. E quando ela rolar, “ai, zizus”, como escreveu o Manuel Bandeira num poema cujo interesse da parte dos gremistas é nenhum nesta hora.
Para o bem da verdade, nem meu é grande tal interesse, neste instante, mas só Bandeira para me salvar. Bandeira não!, Manuel Bandeira, que, torcedor votado mais à tortura da melancólica desconfiança com as mínimas possibilidades do time do que aos êxtases da vitória sonhada, não uso bandeira, camiseta, não tenho pôster na parede. O Inter foi campeão gaúcho neste ano? Quando?
Tento achar um serviço de meteorologia. As nuvens taparam o sol, as nuvens! Não detecto nenhum número de telefone, como se tal serviço fosse um atacante gremista e eu um lento zagueiro colorado, chegando atrasado, não encontrando nada. E às 13h o sol reaparece, ameaçador – para esconder-se meia hora depois. As condições climáticas parecem saber que hoje há Grenal e não resistem a aumentar o sofrimento dos sofredores.
Sim, “estou” (futebol é momento) um sofredor atualmente. Mas se um milagre acontecer – para mim um empate já será um milagre –, não vou, por causa disso, mudar meu estilo de sempre. No máximo verão em meu rosto a expressão de alívio que sentem as plantas, numa estação de seca, após um dia inteiro de chuva.
O diabo é que hoje, pelo jeito, não vai chover mesmo. Em tempo: benditas as palavras de David Coimba, “Grenal não tem nada a ver com futebol.” Lamentavelmente, acho que o David se enganou feio. Se não tivesse nada a ver com futebol, aí sim é que o Inter tinha toda a chance do mundo. Mas, enfim, vamos ver. Pensando bem, Deus não existe e tudo é permitido. (29/06/2008)
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7 comentários:
Sem chuva e sem esperança!
Nããããããããoooooooooooooo!!!
Sem chuva mas com esperança sempre!!!
Esperamos o próximo texto e,se Deus quiser, o tema deve ser "vitória". Ah, se não for no futebol que seja outra...
Walter e Fernanda.
Mas que tortura tche!
Menos Bentancur rsrsrsrs
Hoje o goleiro não vai ser o Clemer.
Abraço colorado
Lucas
Paulo,
otimismo a parte 1X0 colorado, com chuva ou sem chuva.
"Bola trancando na poça ali, bola travando na poça lá, bola parando na poça acolá, e os 90 minutos vão se arrastando com uma espécie de dança de bêbados, sem lógica alguma – nem mesmo a do acidente."
Dança de bêbados! Linda imagem! O clássico já está ganho com essa imagem. Quanto ao jogo, o meio-campo do Inter é muito bom. Vai ser um jogo de dois bons times. Aposto no Róger, sou gremista, para desequilibrar. Mas o Alex também pode fazer o mesmo.
Paulo, não sei por que você quer meu comentário. Está tão atucanado que esqueceu que sou marciano. De qualquer forma, não te desejo boa sorte.
Ernani Ssó
Aigo Ernani:
sim, estou atucanado, pelo excesso de trabalho e pela falta de futebol do meu time (que, por enquanto, 45 minutos, vai enganando a realidade e vence por 1 x 0). Mas, uma prova de que não és marciano, é que, gremista (portanto torcedor, mesmo não pertencente ao botocudo time dos fervorosos), tu NÃO me desejas boa sorte. E sendo meu amigo, hem...
E mais: era só uma estratégia para te fazer escrever umas linhas, o que enobrece este blogue – ainda que o assunto te desmereça.
Gracias.
OLha, Paulo, obrigado pelos elogios um tanto exagerados!
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