Acordo, estremunhando, consciente o suficiente para não estranhar o mundo. O corpo ainda não me pertence, e embora poucas vezes eu tenha tido total domínio sobre ele (nem mesmo na mais absoluta lucidez: o corpo manda, sólido e imprevisível, e eu, sem perceber, obedeço-lhe como um bêbado que é carregado pelas ruas por um delegado, ou então, bem diferente, segue, tomando todos os cuidados, os passos reféns de uma criança). Sou do meu corpo, que é meu e que, também, obedece-me, no entanto de uma maneira diferente, de uma forma um tanto estranha para situação tão cotidiana, até mesmo banal: não tenho o mínimo controle daquilo que se processa tão naturalmente. Mas, enfim, recém estou acordando, bocejo, os olhos ainda ardem da noite profunda na qual caí como quem sucumbe numa espécie de vago prazer da própria precariedade, na qual submergi como quem mergulha fundo, por prazer e necessidade, na qual desapareci de mim próprio para reaparecer tantas vezes em quantos sonhos tive nessa noite, travestido em geral de um homem um tanto assemelhado a mim porém muito, muito diferente no que fez, no que pensou, no que sentiu.
Para ser franco, mais parecido comigo do que eu seria capaz de confessá-lo em público. Na verdade, mais fiel aos impulsos que, acordado, amputei. Por pudor, por impossibilidade social mesmo. Por medo. Por desconforto simples e elementar em praticar a aventura de uma plenitude que no cotidiano não se dá porque o cotidiano nos exige urgências mais imediatistas e de mais fácil execução e mais previsíveis e incapazes de sacudir o testemunho alheio.
A sensação, para ser sincero, para ser 100% sincero, é a de que permaneço dormindo. O dia todo. A semana. Os meses. Os anos.
Quando acordarei?
Às vezes acordo-me, e, acordado, sou tomado de súbito e irrefreável desejo de acordar a quantos puder acordar. E meu elemento para semelhante ato, tão radical, não são as mãos, não se constitui nalgum gesto que sacuda o corpo (também normalmente adormecido) do outro. Não. São as palavras que me vêm e me tomam e ganham o espaço, seccionam o tempo, fundindo o presente entre antes e depois do que foi dito, e já não há, depois do que foi dito, a mínima chance de alguém (eu ou o outro) manter inalterada a aparentemente inalterável realidade.
Isso, claro, quando eu “digo”. Quando a palavra não nasce e ali fica, inerte, em estado de dicionário, e sai de mim como poderia, num primeiro instante, nascer: fria ou morna ou indolente ou tão pouco disposta que não seria exagero chama-la de indisposta, de preguiçosa, de omissa, submetida tão-somente à sua natureza de ferramenta.
Quando eu “digo”, eu desloco a palavra que escolhi – mesmo na pressão/opressão da hora –, e ela me empurra, ou me abraça, e empurra ou abraça a quem estou então tentando comunicar algo. Não simples comunicação no restrito e mirrado âmbito dos significados antecipadamente esperáveis e aceitos, não; mas no movimento um tanto vertiginoso daquilo que se parece com a dança, com o tropeço, com algum golpe, e que causa choque, ou menos: surpresa; ou mais: comoção tão ampla que brota em quem ouve a lágrima, o sorriso, o revide, a gargalhada, o silêncio de quem calou não por consentir, mas por sentir, ou então a resposta, gesto gêmeo ao meu, para o que fiz, dizendo-me com a mesma força que empreguei ao dizer o que eu disse.
Ah, palavra que me acorda, que acorda quem está junto a mim, pessoa à qual me dirijo. Que, assim, acorda ao mundo, e o real já não consegue, de jeito nenhum, fingir que é apenas a construção física de uma civilização que empregou unicamente técnicos, capazes só de erigir na calculada disposição das coisas tácteis outras coisas tácteis.
É nessa hora que o dia – o dia que será lembrado, o dia em que algo efetivamente dar-se-á –, é nessa hora que tudo acontece. A compreensão, a aproximação, o afeto, a verdade até ali adiada e finalmente expressa e libertando a ambos, o falante e o ouvinte, de alguma mentira ou de alguma inaceitável omissão sustentada durante tanto tempo pela seca, pela pobreza verbal, pelo mirrado ser que, sem palavras, pouco mais é que um animal com os dias contados e a glória máxima de unicamente respirar sem o êxtase que a consciência desse poder – a respiração – lhe daria.
Despertado pela palavra, não preciso esperar as duras ordens da realidade. Consigo, afinal, tomar posse de mim mesmo, chegar próximo a quem for capaz de me escutar, ser tão mundo quanto o mundo, ser mais mundo que o mundo. A partir da instauração do meu verbo, esse mundo, esse entorno, quase que somente torna-se cenário para essa personagem – eu! – acontecer e virar crônica, poema, conto, lenda, notícia, pessoa a ser lembrada porque escutada, gente, ser que supera o risco mortal de não ser, tornando-se mais que um sujeito daqueles, dos de sempre, unicamente civil (ou servil, dá no mesmo).
A palavra me tira da condição de mudo. E me mudo porque ganho casa, teto, chão.
E ganho pátio, ganho, no caos urbano, a liberdade de ir e vir, sabendo dar os dribles fundamentais, na ocasião adequada, no desaforado ataque da cidade constituída de veículos e edificações que me ameaçam com o esmagamento ou – o que quase é o mesmo – a distração.
E de posse dela, que me possui e, por isso, me impede de ficar possesso, de tornar-me efígie rotineira de um processo amplo em tamanho e confusão, salva-me do mínimo, do nenhum, da ausência doentia quando não há beleza ou significado, transito – mais que pela cidade – por mim mesmo, e, através de mim, retomo meu corpo to-tal-men-te acordado, tão agudamente lúcido que desta vez a cidade se abre em cada canto, em cada brecha, e tudo é passeio ou atalho para o mais importante e o mais importante não é o que tem pressa mas o que é, efetivamente, importante, dotado de sentido e amplidão.
Tudo agora é gigantesco. E nem precisa ser. Leio tudo. O mundo real deixou de ser um obstáculo, um adversário, uma adversidade, uma advertência. O mundo real passou a ser legível.
Sua complexidade, antes emaranhado, agora é abertura translúcida para que eu não tropece e ande como quem voa – mesmo parado, mesmo simplesmente olhando. Vejo, então, com os olhos de quem lê, e meu olhar, educado pela mais intensa e luminosa das orientações, dirige-se para aonde quer que seja, municiado de uma capacidade de traduzir o mundo até então – quando não lido – feito unicamente de ruínas ainda não acontecidas, porém, por acontecer.
A palavra, como a comida, pode estar no lixo, e pode ser encontrada numa valise de luxo: o livro. Busco-a ali, na valise, onde ela costuma sobreviver com mais qualidade, mais nuances, mais riqueza, mais chances de me dar o que preciso: a mim mesmo e aos demais no que têm de melhor – seu segredo, inconfessável a não ser por meio delas mesmas, as palavras.
No lixo também residem, e me servem num primeiro instante para que eu as recicle, as devolva para onde vieram, as evite, as aponte aos que, inadvertidamente, poderiam pegá-las e, com elas, promoverem o combate que só serve para desler o mundo, confundir com barulho a preciosa chance da música verbal que vai além da música fonética. Esta, um grunhido; aquela, a opulenta harmonia melodiosa que nós empresta mãos para pegarmos partes inteiras do universo captável. Mãos que a palavra “mãos” não consegue representar, não traduz. “Mãos” que em essência são poderosas lentes, de longuíssimo alcance, e com elas atingimos regiões remotas, inacessíveis até o dia em que ainda não dispúnhamos de tal música, de semelhante manancial, onde brota uma luz ferina, reveladora, feita a partir do verbo.
Verbalizar a partir do que vem do lixo, do que vem do descaso do acaso, verbalizar municiado com o chumbo envelhecido, envilecido com o que sobra de sons e somas de vocábulos puídos pelo trânsito cansado e cansável de quem fala porque não sabe que pode dizer mesmo calado – verbalizar assim é o urro do agonizante animal sem a notícia de sua iminente morte.
(Mesmo vivo, o conjunto de órgãos protegido pela ossatura e esta pela pele e pêlos sentir-se-á como se sente um rato tentando atravessar um banhado.)
Porém, alívio!, há o livro e, quase lívido, eu o pego e o abro e ele me abre e nos embrenhamos nessa floresta onde fauna e flora revelam, a cada avanço, novos espécimes e formas e reações e forças e relações. Valise onde o luxo só se protege para ser mais belo e mais legítimo e me proporcionar novas chances de crescer por dentro, de ir mais fundo até o que anteontem chamavam de “alma” e ontem de “espírito” e hoje de “mente” e num semelhante repositório colher o que eu possa, o que calha, o que não cala e até o que, calando, se mostra latente à procura de uma cara feita de fonemas, morfemas, vocábulos e no entanto não os encontra e por isso fica ali, aguardando a hora de sua captura, de sua salvação.
No livro estou mais só do que nunca – considerando a convivência vulgar, aquela com quem nada me dará que não seja violência – e, ao mesmo tempo, estou acompanhado como jamais estive, tão próximo de mim que quase me vejo muito além do espelho, essa superfície lisa e fácil e pobre.
No livro encontro a ferramenta para edificar o sonho que a noite me rouba do dia, incapaz, o pobre, com suas luzes excessivas e intermitentes e seus ruídos mais excessivos e mais intermitentes, de enxergar. No livro encontro o remédio para aplacar a apatia que a doença da imaginação ausente instalou e quase faz meu coração adormecer frente a desafios e fascínios, encontro o remédio que acorda-me do sono esvaziado ou do pesadelo que vaga entre uma desorientação e outra. No livro encontro a arma que irá matar a preguiça, que irá exterminar a fragilidade de minhas argumentações contra o que as desafia, mesmo sem arma alguma.
Ler é questão de saúde. De saúde mental. Saio do livro, repleto de palavras e frases e parágrafos e histórias e idéias e sentimentos e sensações e música, saio dele e vou direto a todos os lugares que desejar. A começar, vou direto a mim mesmo.
Descubro-me acordado.
Descubro-me.
Descubro que posso encobrir-me quando isso for essencial.
Descubro que posso encobrir os que se descobrem no frio do mundo.
Descubro que posso descobrir os que encobrem seu frio para melhor o espargir sobre o mundo, sobre mim.
Desprezo esse frio, essa frivolidade.
Ler é um ato generoso.
Traz-me a grandeza de dar-me, dar um ser a mim, que dele tanto necessito, e ao mundo, que pode conviver em paz e confiavelmente com quem lhe dirá o que pode dizer um homem que convive amorosamente com as palavras, corajosamente com as palavras, honestamente com as palavras, civilizadamente com as palavras.
O mundo, que elas me desenham, é um mundo que faz sentido e ao qual desejo. O mundo que as palavras recortam e reproduzem e transfiguram e imitam é um mundo incalculável e jamais restrito.
Um mundo com palavras, sobretudo com as palavras que habitam o livro, as palavras fascinantes, limpas e penteadas e maquiadas na medida certa, esse é um mundo no qual me reconheço, ao qual pertenço e é nele que me torno humano.
Um mundo sem elas, sem tais palavras adequadas e convidativas com seu sortilégio; um mundo sem palavras que carreguem um mundo, sem a oportunidade de narrativas a evocar vários mundos; um mundo desprovido de verbo, um mundo que dispense o dicionário, que ignore gibis, filmes, livros, ah, ignoto deserto no qual eu vagaria a esmo sem sequer poder escrever meu epitáfio. E um morto sem epitáfio é um morto sem sepultura, é um morto sem identidade, é um morto sem nada, nada, nada, nem mesmo a morte – essa tragédia derradeira que ainda contém algum elemento de odisséia, de aventura, algum significado que só as palavras alcançam. E sem elas, sem elas eu seria, morto, menos que um morto. Nem isso. Menos que a palavra “isso”. Nada. Eu nem teria nascido. (03/07/2008)
quinta-feira, 3 de julho de 2008
terça-feira, 1 de julho de 2008
LONGE DE PARATY
Não estou em Paraty. Nunca estive lá. Jamais vi um buriti. Não conheço o sertão das Gerais exceto pela prosa descritiva de Guimarães Rosa. Não canto, no meu canto, aqui, e, próximo à avenida Assis Brasil, minha terra sem palmeiras e sem sabiás gorjeia o guinchar dos carros. Não o dos carros guinchados. Ontem à noite um vizinho entrou aqui com o filho de um ano e quatro meses, gripado – o menino –, com sede, com fome, o vizinho também com fome Tinha batido na mulher, tinha apanhado da mulher – mulher que estava numa festa enquanto ele buscava o filho no maternal, depois que saiu do serviço e que a chamou de "vagabunda" quando ela entrou em casa, cuidadosa, perto da meia-noite. Desandaram alguns movimentos de sonoridade agônica como os da "Sinfonia Fantástica" de Berlioz num apartamento de um quarto onde cinco pessoas nada dividem exceto o mesmo teto. Recebi o vizinho, com piedade e prostração, enquanto lia as últimas da festa literária de Paraty ou, conforme a grafia oficial rigorosa considerada após 1971, Parati. Uma guria de 26 anos (santo de casa faz milagres), tendo trabalho como copidesque e variantes em duas grandes editoras, estréia com dois livros ao mesmo tempo publicados por duas grandes editoras. E já está lá, cheirando ainda a leite, em Paraty, lugar de Luis Fernando Verissimo, cenário por onde passaram Saramago, J. M. Coetzee, Ian McEwan, e, neste ano, Alessandro Baricco (leiam “Seda”, sobretudo as moças, dos 18 aos 81!) e um alemão que tá me impressionando, o Ingo Schulze.
Mas o alemão que mais me impressionou foi o meu vizinho, segurança do hospital quase em frente de onde moro, menos de três salários mínimos por mês, querendo continuar um casamento que talvez nem tenha começado nunca. Apanhou e bateu – não necessariamente nessa ordem –, desceu do terceiro andar agarrado a um cano, fugindo dos brigadianos que a mulher chamara na noite de sexta-feira, porque, no mínimo, afinal, ela ganha mais do dobro do que ele recebe e ser chamada de “vagabunda” só porque foi a uma festinha enquanto o marido chegou mais cedo com o filho e os outros dois adolescentes que ela teve com outros dois amores que o passado mandou embora são acidentes naturais de uma vida que prefere dançar do que vigiar.
“Ela é ligeira”, ele me confessou, com lágrimas nos olhos. Levei alguns segundos para entender. “Enquanto estou ocupado nalguma tarefa ela já presta atenção em outro.” Moça curiosa, ora. Moça cheia de amor para dar (lembrei de um filme dos anos 1960, “A Filha de Ryan”). O vizinho, afinal, aceitou um café. Bateram na porta. Era a vizinha acompanhada de dois brigadianos. Queria ter certeza que ele não entraria em casa. Ele levou medo. Podia ser preso? Não, não podia, se se comportasse bem, se baixasse a crista e fosse embora. “Vou para onde? Preciso de um banho! Durmo na rua?” Os pais (ele tem 35 anos) moram a 120km do trabalho. Talvez nesta noite durma no serviço mesmo. Não deve ter amigos.
Abraçou-me, quando foi embora: tinha de aceitar que a mulher não mais o queria. Pareceu, naquele instante, um menino de um metro e oitenta. O filho, até então sorridente, brincando com minha filha de oito, começou num berreiro de puro desespero, esperneando, dizendo “mãe, mãe, mãe!” Uma vizinha, amiga da mãe, agradeceu-nos e o levou. Os brigadianos garantiram que estava tudo bem se o vizinho pegasse suas coisas e sumisse. A mulher não queria mais nada mesmo. Não com ele. Não são casados legalmente mas viveram juntos cinco anos. Isso envolve processo, juiz, bens, guarda do filho, perdas, perdas, perdas.
Quando meu apartamento reencontrou o silêncio, parecia que eu estava numa outra dimensão, noutra região, que minha vida tinha mudado completamente. Que eu nem era mais escritor, nem me chamava Paulo, nem tinha fome, nem sede, nem vontade de falar. Como se eu fosse alguém que nunca tivesse ido a Paraty, esse tipo de evento feito de excessivo merchandising e nenhum espaço para as vicissitudes humanas que, afinal, são o grão da terra onde brota a verdadeira literatura. (02/07/2008)
Mas o alemão que mais me impressionou foi o meu vizinho, segurança do hospital quase em frente de onde moro, menos de três salários mínimos por mês, querendo continuar um casamento que talvez nem tenha começado nunca. Apanhou e bateu – não necessariamente nessa ordem –, desceu do terceiro andar agarrado a um cano, fugindo dos brigadianos que a mulher chamara na noite de sexta-feira, porque, no mínimo, afinal, ela ganha mais do dobro do que ele recebe e ser chamada de “vagabunda” só porque foi a uma festinha enquanto o marido chegou mais cedo com o filho e os outros dois adolescentes que ela teve com outros dois amores que o passado mandou embora são acidentes naturais de uma vida que prefere dançar do que vigiar.
“Ela é ligeira”, ele me confessou, com lágrimas nos olhos. Levei alguns segundos para entender. “Enquanto estou ocupado nalguma tarefa ela já presta atenção em outro.” Moça curiosa, ora. Moça cheia de amor para dar (lembrei de um filme dos anos 1960, “A Filha de Ryan”). O vizinho, afinal, aceitou um café. Bateram na porta. Era a vizinha acompanhada de dois brigadianos. Queria ter certeza que ele não entraria em casa. Ele levou medo. Podia ser preso? Não, não podia, se se comportasse bem, se baixasse a crista e fosse embora. “Vou para onde? Preciso de um banho! Durmo na rua?” Os pais (ele tem 35 anos) moram a 120km do trabalho. Talvez nesta noite durma no serviço mesmo. Não deve ter amigos.
Abraçou-me, quando foi embora: tinha de aceitar que a mulher não mais o queria. Pareceu, naquele instante, um menino de um metro e oitenta. O filho, até então sorridente, brincando com minha filha de oito, começou num berreiro de puro desespero, esperneando, dizendo “mãe, mãe, mãe!” Uma vizinha, amiga da mãe, agradeceu-nos e o levou. Os brigadianos garantiram que estava tudo bem se o vizinho pegasse suas coisas e sumisse. A mulher não queria mais nada mesmo. Não com ele. Não são casados legalmente mas viveram juntos cinco anos. Isso envolve processo, juiz, bens, guarda do filho, perdas, perdas, perdas.
Quando meu apartamento reencontrou o silêncio, parecia que eu estava numa outra dimensão, noutra região, que minha vida tinha mudado completamente. Que eu nem era mais escritor, nem me chamava Paulo, nem tinha fome, nem sede, nem vontade de falar. Como se eu fosse alguém que nunca tivesse ido a Paraty, esse tipo de evento feito de excessivo merchandising e nenhum espaço para as vicissitudes humanas que, afinal, são o grão da terra onde brota a verdadeira literatura. (02/07/2008)
A PRESENÇA MAIS CONSTANTE
Deixe de lado qualquer amargura nessa constatação. Qualquer ressentimento. Leve-a para casa (se estiver na rua) ou pra rua (se estiver em casa). A ausência é uma presença constante, repetitiva, insistente, invencível.
Um grande cara, capaz de arrancar gargalhadas do sujeito mais cara-fechada do mundo, o tradutor Jorge Ritter, culto, inteligente e outros bababos, me escreveu há 48 horas; “não li Guimarães Rosa nem Kafka! Não é a fudê isso?...” Claro que é a fudê! É muito engraçado. Tem que ter coragem de, além de resistir a lê-los, não os tendo lido, confessá-lo. Jorge é o que os apressados chamariam de um “bonachão”. Eu o acho um talento do humor escrachado, até aquele limitezinho onde o mau gosto não passa a ponta da unha. Mas que ele bate forte onde mais dói – “nosso estilo”, “nossa seriedade” –, ah, bate; e depois, seus e-mails (hijo de una gran madre que te parió, jorgito!) poderiam muito bem virar livro irresistível, capaz de derrubar qualquer respeito que se possa ter de nós mesmos e da condição humana, sobretudo o auto-respeito...
Cito o Ritter porque este tema, sendo anti-Ritter, por oposição, lembra ninguém menos que ele. O Jorge é um dos que me mandam e-mails e dizem “pára com literatura, pára com essa cachaça”. Pero no lo creo... Se ele está falando sério, é porque estou a quilômetros de atingir o nível de um Cortázar. Se ele não está falando sério, então está tudo bem: devo continuar escrevendo e o Jorge é o Jorge de sempre, querendo testar o nosso equilíbrio – em regra, quase nenhum.
É sobre a ausência, que em post anterior erigi como um desejo, uma falta a partir da qual nada pode ser minimamente inteiro em mim, uma saudade, em suma, mesmo metafísica, ainda que parta da condição concreta e desesperadora de uma pessoa estar mais que distante, inalcançável.
Ausência é tema seminal. A possibilitar-nos um olhar em várias direções, e tantas são as ausências que detectá-las é, dos atos cotidianos – desculpem o paradoxo –, talvez o mais presente.
Sim, onde estás, obscuro objeto do desejo, complexo e febril, que não domino?, e que me tornas refém desse vazio onde por mais que tudo compareça, pessoas e coisas e cenas, sem ti por perto acabam por tornar-se um mundo em ruínas, um pequeno (porque só se trata de mim) apocalipse.
Dele, sem ti, não me ergo. E impossível torna-se retomar as tarefas, quais sejam elas, mesmo as urgentes.
Ausência é, por exemplo, sendo eu um escritor, não poder dedicar-me à literatura porque não vivo de rendas e, pena de aluguel, não me sobra tempo para escrever o que preciso, humanamente, escrever (escrever de aluguel não é humano, é o bicho escarvando no latão atrás de comida). E então acumulam-se em mim presenças de poemas, de contos, de novelas, até mesmo de e-mails extensos e urgentes, porém um conjunto todo – a assombrar-me – que exige sua hora, minha atenção, e ao qual sou obrigado a abandonar sob pena de abandonar-me, já sem mim, pena de aluguel.
Vendesse o que quero vender (sim, Ritter, imagino tua acidez já saltitando à beira do gramado), e ser pena de aluguel seria a glória. Mas, sabem, não é a isso que me refiro: refiro-me à ausência de todos os temas e formas e idéias e personagens que me provocam, me desafiam, me encantam e deles não posso cuidar porque outros textos que nada têm a ver comigo são contratados antes disso tudo (minha vida!) e pagam – mal, mas pagam – as contas e então destes eu cuido e de mim eu me descuido. Eis a ausência maior.
A partir dela todas as outras derivam. E vão em direção ao limbo, me arrastando sem que eu possa me defender, escapar. Daí, Jorge, esse “chorrilho”, esse derramamento – de um tipo de sangue ao qual, para minimizar, damos o nome de palavras. (01/07/2008)
Um grande cara, capaz de arrancar gargalhadas do sujeito mais cara-fechada do mundo, o tradutor Jorge Ritter, culto, inteligente e outros bababos, me escreveu há 48 horas; “não li Guimarães Rosa nem Kafka! Não é a fudê isso?...” Claro que é a fudê! É muito engraçado. Tem que ter coragem de, além de resistir a lê-los, não os tendo lido, confessá-lo. Jorge é o que os apressados chamariam de um “bonachão”. Eu o acho um talento do humor escrachado, até aquele limitezinho onde o mau gosto não passa a ponta da unha. Mas que ele bate forte onde mais dói – “nosso estilo”, “nossa seriedade” –, ah, bate; e depois, seus e-mails (hijo de una gran madre que te parió, jorgito!) poderiam muito bem virar livro irresistível, capaz de derrubar qualquer respeito que se possa ter de nós mesmos e da condição humana, sobretudo o auto-respeito...
Cito o Ritter porque este tema, sendo anti-Ritter, por oposição, lembra ninguém menos que ele. O Jorge é um dos que me mandam e-mails e dizem “pára com literatura, pára com essa cachaça”. Pero no lo creo... Se ele está falando sério, é porque estou a quilômetros de atingir o nível de um Cortázar. Se ele não está falando sério, então está tudo bem: devo continuar escrevendo e o Jorge é o Jorge de sempre, querendo testar o nosso equilíbrio – em regra, quase nenhum.
É sobre a ausência, que em post anterior erigi como um desejo, uma falta a partir da qual nada pode ser minimamente inteiro em mim, uma saudade, em suma, mesmo metafísica, ainda que parta da condição concreta e desesperadora de uma pessoa estar mais que distante, inalcançável.
Ausência é tema seminal. A possibilitar-nos um olhar em várias direções, e tantas são as ausências que detectá-las é, dos atos cotidianos – desculpem o paradoxo –, talvez o mais presente.
Sim, onde estás, obscuro objeto do desejo, complexo e febril, que não domino?, e que me tornas refém desse vazio onde por mais que tudo compareça, pessoas e coisas e cenas, sem ti por perto acabam por tornar-se um mundo em ruínas, um pequeno (porque só se trata de mim) apocalipse.
Dele, sem ti, não me ergo. E impossível torna-se retomar as tarefas, quais sejam elas, mesmo as urgentes.
Ausência é, por exemplo, sendo eu um escritor, não poder dedicar-me à literatura porque não vivo de rendas e, pena de aluguel, não me sobra tempo para escrever o que preciso, humanamente, escrever (escrever de aluguel não é humano, é o bicho escarvando no latão atrás de comida). E então acumulam-se em mim presenças de poemas, de contos, de novelas, até mesmo de e-mails extensos e urgentes, porém um conjunto todo – a assombrar-me – que exige sua hora, minha atenção, e ao qual sou obrigado a abandonar sob pena de abandonar-me, já sem mim, pena de aluguel.
Vendesse o que quero vender (sim, Ritter, imagino tua acidez já saltitando à beira do gramado), e ser pena de aluguel seria a glória. Mas, sabem, não é a isso que me refiro: refiro-me à ausência de todos os temas e formas e idéias e personagens que me provocam, me desafiam, me encantam e deles não posso cuidar porque outros textos que nada têm a ver comigo são contratados antes disso tudo (minha vida!) e pagam – mal, mas pagam – as contas e então destes eu cuido e de mim eu me descuido. Eis a ausência maior.
A partir dela todas as outras derivam. E vão em direção ao limbo, me arrastando sem que eu possa me defender, escapar. Daí, Jorge, esse “chorrilho”, esse derramamento – de um tipo de sangue ao qual, para minimizar, damos o nome de palavras. (01/07/2008)
domingo, 29 de junho de 2008
UMA AUSÊNCIA: TODA AUSÊNCIA
Como o cocheiro no conto de Tchecov, que, não tendo a quem contar as mágoas, confessa-se e a seus fracassos ao pobre cavalo que conduz e de quem cuida, busco a ti cujos olhos estarão fechados a esta hora, dormindo. Ou abertos, vendo um filme atrás do outro, algum debate na tevê, até mesmo algum comercial.
Busco teus ouvidos, escutando as histórias de parentes, filhos, amigos, vizinhos. Escutando os ruídos indistintos do apartamento ao lado. Escutando a rua e seus sons tão óbvios quanto indistintos.
Busco teu olhar, a ver (não por enxergar), mas ver de um jeito que não sei olhar nada, a ótica do enigma que numa simples vislumbrada desvendas como quem retira a toalha da mesa da cozinha.
E, pior, nem busco. Penso nessa audição, não para mim agora. Penso nesse olhar, não para mim agora. Penso, agora, em tua boca, ressonando, plácida, que um beijo não esperaria para despertá-la, ou em sua voz, abrindo espaço entre o morno hálito que sai junto e diz, quase numa canção: “tu, hem!”
E eu nada.
Eu aqui. Eu aonde? Eu aqui aonde. Eu lá aqui mais pra lá ainda do que poderia estar, sem me alcançar. Sem me alcançares. Sem me veres. Sem me escutares. Sem me falares.
Eu não eu quase eu se pudesse me olhar sem desgosto, se pudesse me escutar sem achar que digo sempre as mesmas coisas, se pudesse – dormir. Dormir mesmo. De preferência sem os malditos sonhos.
E acordar pelo menos sozinho. Sem ti mas sozinho. Sozinho mas recuperado para mim mesmo e, desta forma, mais próximo de ti.
Pronto a, aproveitando-me da solidão mais plena, voar até aonde estás, mesmo se acompanhada, e tomar baldes de sereno como faria um adolescente de filmes ou um adolescente real de porre. Até que o primeiro sol e tu saindo de casa o encontrariam próximo ao portão da garagem. Para ser recolhido como um animal entre arisco, entre ameaçador.
Eu morderia. Sim, eu morderia. Mas só a mim. Para provar, no adocicado gosto da saliva ferida, que meu sangue ainda não secou. (30/06/2008)
Busco teus ouvidos, escutando as histórias de parentes, filhos, amigos, vizinhos. Escutando os ruídos indistintos do apartamento ao lado. Escutando a rua e seus sons tão óbvios quanto indistintos.
Busco teu olhar, a ver (não por enxergar), mas ver de um jeito que não sei olhar nada, a ótica do enigma que numa simples vislumbrada desvendas como quem retira a toalha da mesa da cozinha.
E, pior, nem busco. Penso nessa audição, não para mim agora. Penso nesse olhar, não para mim agora. Penso, agora, em tua boca, ressonando, plácida, que um beijo não esperaria para despertá-la, ou em sua voz, abrindo espaço entre o morno hálito que sai junto e diz, quase numa canção: “tu, hem!”
E eu nada.
Eu aqui. Eu aonde? Eu aqui aonde. Eu lá aqui mais pra lá ainda do que poderia estar, sem me alcançar. Sem me alcançares. Sem me veres. Sem me escutares. Sem me falares.
Eu não eu quase eu se pudesse me olhar sem desgosto, se pudesse me escutar sem achar que digo sempre as mesmas coisas, se pudesse – dormir. Dormir mesmo. De preferência sem os malditos sonhos.
E acordar pelo menos sozinho. Sem ti mas sozinho. Sozinho mas recuperado para mim mesmo e, desta forma, mais próximo de ti.
Pronto a, aproveitando-me da solidão mais plena, voar até aonde estás, mesmo se acompanhada, e tomar baldes de sereno como faria um adolescente de filmes ou um adolescente real de porre. Até que o primeiro sol e tu saindo de casa o encontrariam próximo ao portão da garagem. Para ser recolhido como um animal entre arisco, entre ameaçador.
Eu morderia. Sim, eu morderia. Mas só a mim. Para provar, no adocicado gosto da saliva ferida, que meu sangue ainda não secou. (30/06/2008)
QUATRO HORAS DEPOIS DO GRENAL
Afinal, não precisei me esconder tão fundamente num livro do Philip Roth: o Grêmio escondeu-se mais em si mesmo e o Inter teve a suprema sorte de acreditar no futebol que não conseguia (e então pôde, taticamente sendo melhor).
Não choveu conforme eu desejara, mas não precisou chover. O sistema defensivo montado por Tite – que 15 dias após conviver com o vestiário colorado, concentração, treinos e rachões, começa efetivamente a conhecer o time, infinitamente mais do que só em assisti-lo pela tevê ou mesmo no estádio, sentado nas arquibancadas, como deveria estar fazendo antes de ser contratado – deixou o ataque gremista a seco, não fosse uma isolada penalidade máxima batida de um jeito que...
Outra hora a gente discute, mas aquela paradinha, esperando o goleiro atirar-se para um canto e só depois o batedor decidindo-se, com ¾ da goleira aberta, a empurrar confortavelmente a bola para os fundos da rede, é, além de covarde, me parece, ilegal. Tem jeito de pelada, não de profissionalismo. E eles ganham uma banana pra fazer macacada. Mas os árbitros, a FIFA... (Ontem assisti seis pênaltis batidos, e convertidos, todos eles: quatro com paradinha: só respeitei os dois que chutaram direto, sem truques além da técnica em si.)
Pelo menos numa coisa acertei: os juízes são os maiores perebas do futebol atual. O gol do Inter (gol por justiça mas não por direito) foi ilegal: Nilmar estava impedido quando alçou a bola para Índio cabecear. Houve um pênalti em Nilmar feito por Rodrigo Mendes, quase na cara do árbitro, que corria naquela direção, mas ele não viu. Nem o bandeirinha, que viu o pênalti (existente, embora inacreditavelmente bobo) de Renan no mesmo Rodrigo Mendes.
Isso o Grenal teve: no desespero de anular o adversário, ações absurdas, inexplicáveis, desnecessárias. Sorte que por perto só havia esse tipo de árbitro que costuma ser escalado pela comissão do setor na CBF e então algumas dessas ações, decisivas para mudar o placar da partida, não foram assinaladas. E algumas, corretas, mas e daí, no calor da decisão... Não fosse o bandeirinha, dava Inter!
Maldito bandeirinha! Eu também tinha dito que o juiz era uma das grandes chances do Internacional, e se só houvesse a decisão do árbitro contando, e o bandeirinha nem tivesse entrado no estádio, o pênalti a favor do Grêmio não teria sido visto e o Inter teria ganho a partida. Mas, certo, eu sei: não seria legal. Não chego a ser torcedor a esse ponto
Um amigo, pelo tom do comentário que postou no texto anterior, sentiu-se xingado de marciano em razão da frase “o Grenal se impõe a quase todos nós – sei: existem os marcianos, que nem estão aí” etecétera e tal. E depois despediu-se, a seco, com tal frase: “não te desejo boa sorte.” Provoquei-o, espero que saudavelmente, eu mesmo postando um comentário, dizendo que tanto não é marciano, e, assim, é torcedor, e gremista, que não deseja sorte a um colorado, claro. Minha estratégia, na verdade, era outra: levá-lo a escrever, qualificando o espaço, como sugeri em post bem anterior (“Acessos e comentários”, de 21/06) no qual discorro acerca da discrepância entre a quantidade de gente que lê o blog e gente que o comenta. É se fazer as contas e uns 6% no máximo deixam algum tipo de opinião. De qualquer forma, o importante (o mais importante) é que a quantidade de leitores suplanta a dos que escrevem. E apenas ler é mais elegante – e sensato – do que escrever insanamente. Escrever: coisa que eu, por exemplo, faço. Procurarei evitar, não o ato de escrever, mas o seu exercício máximo.
Espero que ele, bem-humorado que é (mas grave quando a situação o exige), chateie-se com o árbitro do Grenal e não comigo.
Ah, outro detalhe. Examine-se, detidamente, meu texto. Antes de escrever “marciano”, afirmo que o futebol se impõe a “quase” todos nós. Ora, “quase” não são “todos” e ele pode – e é – uma honrosa exceção dentro dessa totalidade só culturalmente absoluta (no imaginário nacional do qual boa parte ele dispensa).
Tenho que rever as grandes rivalidades. Não são mais partidárias (os partidos estão sucateados). Não são mais futebolísticas (não, ao menos, em alto nível). São, como posso dizer..., na alcova das particularidades, onde, parece, as pessoas não querem papo que não seja exatamente aquele para o qual se sentem (sem sei se disponíveis) muito interessadas. Fora isso, mesmo que 85,7% do estado estejam envolvidos, 14,3% responderão num estalo: “pediu, levou!” e esquecerão, nem digo a paciência, esquecerão que delicadeza faz bem para ambos os lados, ambas as torcidas.
Principalmente se houvesse um vencedor. Este, poderia ser paciente e delicado e gentil e compreensivo e todas as variantes simpáticas que fazem a civilidade do que lê, muitas vezes, até mesmo, por obrigação. Disfarçando-o, lógico.
Mas vamos ao que interessa à maioria, ao Grenal, passadas quatro horas. Meia-noite toca o limbo entre domingo e segunda-feira e já adentro a segunda, seus primeiros minutos, para dar fecho a este texto. Eu escrevi que para um torcedor do Inter, do jeito que ia a coisa, um empate soaria como goleada. Soou. Mas muitos gremistas também estavam bastante tranqüilos após a partida, quase satisfeitos, possivelmente satisfeitos (e isso declarado por setores da imprensa, não por mim, um colorado).
A questão é que não houve mortos nem feridos. Só marcianos e terrestres, alguns quase uma coisa ou outra. (29/06/2008)
Não choveu conforme eu desejara, mas não precisou chover. O sistema defensivo montado por Tite – que 15 dias após conviver com o vestiário colorado, concentração, treinos e rachões, começa efetivamente a conhecer o time, infinitamente mais do que só em assisti-lo pela tevê ou mesmo no estádio, sentado nas arquibancadas, como deveria estar fazendo antes de ser contratado – deixou o ataque gremista a seco, não fosse uma isolada penalidade máxima batida de um jeito que...
Outra hora a gente discute, mas aquela paradinha, esperando o goleiro atirar-se para um canto e só depois o batedor decidindo-se, com ¾ da goleira aberta, a empurrar confortavelmente a bola para os fundos da rede, é, além de covarde, me parece, ilegal. Tem jeito de pelada, não de profissionalismo. E eles ganham uma banana pra fazer macacada. Mas os árbitros, a FIFA... (Ontem assisti seis pênaltis batidos, e convertidos, todos eles: quatro com paradinha: só respeitei os dois que chutaram direto, sem truques além da técnica em si.)
Pelo menos numa coisa acertei: os juízes são os maiores perebas do futebol atual. O gol do Inter (gol por justiça mas não por direito) foi ilegal: Nilmar estava impedido quando alçou a bola para Índio cabecear. Houve um pênalti em Nilmar feito por Rodrigo Mendes, quase na cara do árbitro, que corria naquela direção, mas ele não viu. Nem o bandeirinha, que viu o pênalti (existente, embora inacreditavelmente bobo) de Renan no mesmo Rodrigo Mendes.
Isso o Grenal teve: no desespero de anular o adversário, ações absurdas, inexplicáveis, desnecessárias. Sorte que por perto só havia esse tipo de árbitro que costuma ser escalado pela comissão do setor na CBF e então algumas dessas ações, decisivas para mudar o placar da partida, não foram assinaladas. E algumas, corretas, mas e daí, no calor da decisão... Não fosse o bandeirinha, dava Inter!
Maldito bandeirinha! Eu também tinha dito que o juiz era uma das grandes chances do Internacional, e se só houvesse a decisão do árbitro contando, e o bandeirinha nem tivesse entrado no estádio, o pênalti a favor do Grêmio não teria sido visto e o Inter teria ganho a partida. Mas, certo, eu sei: não seria legal. Não chego a ser torcedor a esse ponto
Um amigo, pelo tom do comentário que postou no texto anterior, sentiu-se xingado de marciano em razão da frase “o Grenal se impõe a quase todos nós – sei: existem os marcianos, que nem estão aí” etecétera e tal. E depois despediu-se, a seco, com tal frase: “não te desejo boa sorte.” Provoquei-o, espero que saudavelmente, eu mesmo postando um comentário, dizendo que tanto não é marciano, e, assim, é torcedor, e gremista, que não deseja sorte a um colorado, claro. Minha estratégia, na verdade, era outra: levá-lo a escrever, qualificando o espaço, como sugeri em post bem anterior (“Acessos e comentários”, de 21/06) no qual discorro acerca da discrepância entre a quantidade de gente que lê o blog e gente que o comenta. É se fazer as contas e uns 6% no máximo deixam algum tipo de opinião. De qualquer forma, o importante (o mais importante) é que a quantidade de leitores suplanta a dos que escrevem. E apenas ler é mais elegante – e sensato – do que escrever insanamente. Escrever: coisa que eu, por exemplo, faço. Procurarei evitar, não o ato de escrever, mas o seu exercício máximo.
Espero que ele, bem-humorado que é (mas grave quando a situação o exige), chateie-se com o árbitro do Grenal e não comigo.
Ah, outro detalhe. Examine-se, detidamente, meu texto. Antes de escrever “marciano”, afirmo que o futebol se impõe a “quase” todos nós. Ora, “quase” não são “todos” e ele pode – e é – uma honrosa exceção dentro dessa totalidade só culturalmente absoluta (no imaginário nacional do qual boa parte ele dispensa).
Tenho que rever as grandes rivalidades. Não são mais partidárias (os partidos estão sucateados). Não são mais futebolísticas (não, ao menos, em alto nível). São, como posso dizer..., na alcova das particularidades, onde, parece, as pessoas não querem papo que não seja exatamente aquele para o qual se sentem (sem sei se disponíveis) muito interessadas. Fora isso, mesmo que 85,7% do estado estejam envolvidos, 14,3% responderão num estalo: “pediu, levou!” e esquecerão, nem digo a paciência, esquecerão que delicadeza faz bem para ambos os lados, ambas as torcidas.
Principalmente se houvesse um vencedor. Este, poderia ser paciente e delicado e gentil e compreensivo e todas as variantes simpáticas que fazem a civilidade do que lê, muitas vezes, até mesmo, por obrigação. Disfarçando-o, lógico.
Mas vamos ao que interessa à maioria, ao Grenal, passadas quatro horas. Meia-noite toca o limbo entre domingo e segunda-feira e já adentro a segunda, seus primeiros minutos, para dar fecho a este texto. Eu escrevi que para um torcedor do Inter, do jeito que ia a coisa, um empate soaria como goleada. Soou. Mas muitos gremistas também estavam bastante tranqüilos após a partida, quase satisfeitos, possivelmente satisfeitos (e isso declarado por setores da imprensa, não por mim, um colorado).
A questão é que não houve mortos nem feridos. Só marcianos e terrestres, alguns quase uma coisa ou outra. (29/06/2008)
SEIS HORAS ANTES DO GRENAL
Acordei às 9h, não dormi direito. Levantei-me três vezes pela madrugada, comi doces, tentei, por duas vezes, ver algum filme ao acaso. Tudo inútil. Tudo por causa do Grenal.
Porém, às 9h, ah, dor das dores, um sol me provocou: hoje vai ter goleada e sabes de quem contra quem. Temi, tremi, mas então... Ao meio-dia o céu enfarruscou, as nuvens, plúmbeas como escrever-se-ia (inclusive esta mesóclise) em 1940, deram-me alguma esperança. Vai chover, vai chover! Tem de chover, e muito...
Ontem, numa festa escolar junina, junto a minha filha de oito anos, encontrei um grande poeta e um (maldição) típico torcedor, o que não sou: daqueles que olham o adversário e sorriem desafiadores. Claro que ele era gremista (aliás, estava de aniversário, e parecia já comemorar de véspera uma outra festa). Claro que era o Paulo Seben. Se o leitor não sabe que Seben é gremista, mais azul impossível, está perdoado. Mas ignorar o poeta que ele é, ah, não.
Bem, estou tentando desconversar e levar o papo em outra direção, a da literatura. Mas o Grenal se impõe a quase todos nós (sei: existem os marcianos, que nem estão aí, e 75% das mulheres, que ainda não começaram a dar a importância que o futebol possui), levando-nos, neste domingo, a suportar hora a hora, minuto a minuto, segundo a segundo, antes de a bola rolar. E quando ela rolar, “ai, zizus”, como escreveu o Manuel Bandeira num poema cujo interesse da parte dos gremistas é nenhum nesta hora.
Para o bem da verdade, nem meu é grande tal interesse, neste instante, mas só Bandeira para me salvar. Bandeira não!, Manuel Bandeira, que, torcedor votado mais à tortura da melancólica desconfiança com as mínimas possibilidades do time do que aos êxtases da vitória sonhada, não uso bandeira, camiseta, não tenho pôster na parede. O Inter foi campeão gaúcho neste ano? Quando?
Tento achar um serviço de meteorologia. As nuvens taparam o sol, as nuvens! Não detecto nenhum número de telefone, como se tal serviço fosse um atacante gremista e eu um lento zagueiro colorado, chegando atrasado, não encontrando nada. E às 13h o sol reaparece, ameaçador – para esconder-se meia hora depois. As condições climáticas parecem saber que hoje há Grenal e não resistem a aumentar o sofrimento dos sofredores.
Sim, “estou” (futebol é momento) um sofredor atualmente. Mas se um milagre acontecer – para mim um empate já será um milagre –, não vou, por causa disso, mudar meu estilo de sempre. No máximo verão em meu rosto a expressão de alívio que sentem as plantas, numa estação de seca, após um dia inteiro de chuva.
O diabo é que hoje, pelo jeito, não vai chover mesmo. Em tempo: benditas as palavras de David Coimba, “Grenal não tem nada a ver com futebol.” Lamentavelmente, acho que o David se enganou feio. Se não tivesse nada a ver com futebol, aí sim é que o Inter tinha toda a chance do mundo. Mas, enfim, vamos ver. Pensando bem, Deus não existe e tudo é permitido. (29/06/2008)
Porém, às 9h, ah, dor das dores, um sol me provocou: hoje vai ter goleada e sabes de quem contra quem. Temi, tremi, mas então... Ao meio-dia o céu enfarruscou, as nuvens, plúmbeas como escrever-se-ia (inclusive esta mesóclise) em 1940, deram-me alguma esperança. Vai chover, vai chover! Tem de chover, e muito...
Ontem, numa festa escolar junina, junto a minha filha de oito anos, encontrei um grande poeta e um (maldição) típico torcedor, o que não sou: daqueles que olham o adversário e sorriem desafiadores. Claro que ele era gremista (aliás, estava de aniversário, e parecia já comemorar de véspera uma outra festa). Claro que era o Paulo Seben. Se o leitor não sabe que Seben é gremista, mais azul impossível, está perdoado. Mas ignorar o poeta que ele é, ah, não.
Bem, estou tentando desconversar e levar o papo em outra direção, a da literatura. Mas o Grenal se impõe a quase todos nós (sei: existem os marcianos, que nem estão aí, e 75% das mulheres, que ainda não começaram a dar a importância que o futebol possui), levando-nos, neste domingo, a suportar hora a hora, minuto a minuto, segundo a segundo, antes de a bola rolar. E quando ela rolar, “ai, zizus”, como escreveu o Manuel Bandeira num poema cujo interesse da parte dos gremistas é nenhum nesta hora.
Para o bem da verdade, nem meu é grande tal interesse, neste instante, mas só Bandeira para me salvar. Bandeira não!, Manuel Bandeira, que, torcedor votado mais à tortura da melancólica desconfiança com as mínimas possibilidades do time do que aos êxtases da vitória sonhada, não uso bandeira, camiseta, não tenho pôster na parede. O Inter foi campeão gaúcho neste ano? Quando?
Tento achar um serviço de meteorologia. As nuvens taparam o sol, as nuvens! Não detecto nenhum número de telefone, como se tal serviço fosse um atacante gremista e eu um lento zagueiro colorado, chegando atrasado, não encontrando nada. E às 13h o sol reaparece, ameaçador – para esconder-se meia hora depois. As condições climáticas parecem saber que hoje há Grenal e não resistem a aumentar o sofrimento dos sofredores.
Sim, “estou” (futebol é momento) um sofredor atualmente. Mas se um milagre acontecer – para mim um empate já será um milagre –, não vou, por causa disso, mudar meu estilo de sempre. No máximo verão em meu rosto a expressão de alívio que sentem as plantas, numa estação de seca, após um dia inteiro de chuva.
O diabo é que hoje, pelo jeito, não vai chover mesmo. Em tempo: benditas as palavras de David Coimba, “Grenal não tem nada a ver com futebol.” Lamentavelmente, acho que o David se enganou feio. Se não tivesse nada a ver com futebol, aí sim é que o Inter tinha toda a chance do mundo. Mas, enfim, vamos ver. Pensando bem, Deus não existe e tudo é permitido. (29/06/2008)
sábado, 28 de junho de 2008
O INTER TEM MUITAS CHANCES NESTE GRENAL
O leitor gremista que tenha compreensão, algo menos complicado da forma com que a tratam quase todos. Compreensão.
Por algum time eu teria de torcer. Podia ser pelo São José. É pelo Inter.
Como domingo, 29 de junho, haverá Grenal, só depois do jogo, só muuuuuito depois do jogo, é que nossas relações – entre eu e o torcedor gremista – poderão se restabelecer. Por mim, não precisaria esse prazo. Já estou numa boa com eles, sempre estive, desde que não ponham o Grêmio acima da sensatez e da civilidade. O Inter eu o ponho – não abaixo do c. do cachorro, mas só porque é futebol. E futebol, às vezes (hoje ando pensado "o diabo é que só às vezes")...
Pois esta é a primeira chance do Inter num Grenal para o qual chega muito desacreditado, e com razões de sobra.
Não diminuo o Inter. O Inter é que anda se diminuindo.
Para começar, futebol é velocidade, e o Grêmio está voando nos cascos enquanto no segundo tempo o Inter parece já começá-lo com a língua de fora. Claro, convém lembrar que só velocidade não resolve, se esta for convertida numa desenfreada correria, sem maior sentido. É preciso saber para onde correr e, até, como correr. Uma velocidade mal-empregada pode ser um veneno contra o próprio corredor. Mas a verdade – sintetizemos – é que a velocidade é, sim, uma arma no futebol atual, e neste quesito o Grêmio tem um preparador físico que tem acertado a mão. A mão e os pés.
Basta ver a tabela e a conversa quase é encerrada. O Grêmio está em 2o lugar no campeonato nacional enquanto o Inter lambe as bordas do funil onde jazem quatro potenciais candidatos ao rebaixamento. Mas tabela não ganha jogo, sabemos, embora psicologicamente pressione o pior colocado e desespere o torcedor deste. Na hora do Grenal, para terem uma idéia (sou candidato a hipertensão), estarei lendo Fantasma sai de cena, do Philip Roth. Afinal, tenho de disfarçar o medo com a aparência da coragem e em alto estilo.
Mas retomemos o mote deste post: as chances reais do Inter. A maior de todas, claro, é vergonhosa e acho que em clássico caseiro, sobretudo na sisuda cultura gaúcha, não cabe aventar essa possibilidade: o árbitro. Comprar o juiz seria uma boa; não, uma ótima. Mas deve custar quase o passe da repatriação do Rafael Sobis e resolveria só por uma partida. O Sobis resolve várias.
A segunda chance seria um possível salto-alto do Grêmio, um “já ganhei” compreensível nas atuais circunstâncias. O diabo é que o Grêmio não é brasileiro, é argentino, uruguaio, paraguaio, qualquer coisa que carregue sangue charrua, sangue mais quente para defender essas estranhas origens vindas do frio mais frio. Ou do úmido pantanoso paraguaio. E gente assim não bota salto-alto nem se fosse gay.
O Grêmio tem uma cultura daquele tipo: coloca espora sem colocar as botas. Joga de pé no chão e ri das travas das chuteiras do adversário, como se elas fossem, essas sim, o salto-alto do outro.
O Inter não tem razão alguma para salto-alto, mas tem andado em campo como quem usasse um. Corre pouco, e isso sem falar na zona aérea, onde perde de cabeça (na entrada da área!) quase todas as disputas – é só ver os dois gols bestas do Vitória, domingo passado. Lentidão até no ar. Voltei a pensar em velocidade. O Grêmio, de quem ninguém esperava nada antes de o brasileirão começar, é o Kubica, o polonês. O Inter é o Rubinho.
E sempre com aquele sorriso amarelo e o dedo levantado em sinal de positivo. Só se for pra próxima.
Mas... e as chances do Inter? O árbitro é que não é. Bem, pode ser. Tirando o Gaciba, o Simon, quem mais?, a verdade é que os árbitros são os maiores perebas do futebol atual. O nível da arbitragem tá mais ou menos como o do futebol praticado pelo Inter. Pode emparelhar o clássico. Os melhores, hoje, são os gandulas, que sabem conduzir um jogo e decidi-lo na hora certa.
Outra chance do Inter (por essa eu rezo): a chuva. Uma chuva torrencial, daquelas de inundar o campo, tornando-o impraticável. Adiar o jogo não resolveria: a surra somente seria adiada. Mas aí, vamos ser realistas. Falávamos agorinha mesmo dos péssimos árbitros. Mesmo com campo sem condições os homens de amarelo (antes eram de preto) costumam dar condições para que a partida se “realize”. O que acontece? Bola trancando na poça ali, bola travando na poça lá, bola parando na poça acolá, e os 90 minutos vão se arrastando com uma espécie de dança de bêbados, sem lógica alguma – nem mesmo a do acidente. Campo molhado de fato tira até o acidente porque a bola simplesmente não desliza.
Sim, tem a bola aérea, molhada, resvaladiça. Neste caso, não existe goleiro que se garanta na hora de tentar segurá-la. Quem sabe. Essa lei vale para todos. É puro acaso, e contra ele não há quem vença.
Nem o Grêmio. (28/06/2008)
Por algum time eu teria de torcer. Podia ser pelo São José. É pelo Inter.
Como domingo, 29 de junho, haverá Grenal, só depois do jogo, só muuuuuito depois do jogo, é que nossas relações – entre eu e o torcedor gremista – poderão se restabelecer. Por mim, não precisaria esse prazo. Já estou numa boa com eles, sempre estive, desde que não ponham o Grêmio acima da sensatez e da civilidade. O Inter eu o ponho – não abaixo do c. do cachorro, mas só porque é futebol. E futebol, às vezes (hoje ando pensado "o diabo é que só às vezes")...
Pois esta é a primeira chance do Inter num Grenal para o qual chega muito desacreditado, e com razões de sobra.
Não diminuo o Inter. O Inter é que anda se diminuindo.
Para começar, futebol é velocidade, e o Grêmio está voando nos cascos enquanto no segundo tempo o Inter parece já começá-lo com a língua de fora. Claro, convém lembrar que só velocidade não resolve, se esta for convertida numa desenfreada correria, sem maior sentido. É preciso saber para onde correr e, até, como correr. Uma velocidade mal-empregada pode ser um veneno contra o próprio corredor. Mas a verdade – sintetizemos – é que a velocidade é, sim, uma arma no futebol atual, e neste quesito o Grêmio tem um preparador físico que tem acertado a mão. A mão e os pés.
Basta ver a tabela e a conversa quase é encerrada. O Grêmio está em 2o lugar no campeonato nacional enquanto o Inter lambe as bordas do funil onde jazem quatro potenciais candidatos ao rebaixamento. Mas tabela não ganha jogo, sabemos, embora psicologicamente pressione o pior colocado e desespere o torcedor deste. Na hora do Grenal, para terem uma idéia (sou candidato a hipertensão), estarei lendo Fantasma sai de cena, do Philip Roth. Afinal, tenho de disfarçar o medo com a aparência da coragem e em alto estilo.
Mas retomemos o mote deste post: as chances reais do Inter. A maior de todas, claro, é vergonhosa e acho que em clássico caseiro, sobretudo na sisuda cultura gaúcha, não cabe aventar essa possibilidade: o árbitro. Comprar o juiz seria uma boa; não, uma ótima. Mas deve custar quase o passe da repatriação do Rafael Sobis e resolveria só por uma partida. O Sobis resolve várias.
A segunda chance seria um possível salto-alto do Grêmio, um “já ganhei” compreensível nas atuais circunstâncias. O diabo é que o Grêmio não é brasileiro, é argentino, uruguaio, paraguaio, qualquer coisa que carregue sangue charrua, sangue mais quente para defender essas estranhas origens vindas do frio mais frio. Ou do úmido pantanoso paraguaio. E gente assim não bota salto-alto nem se fosse gay.
O Grêmio tem uma cultura daquele tipo: coloca espora sem colocar as botas. Joga de pé no chão e ri das travas das chuteiras do adversário, como se elas fossem, essas sim, o salto-alto do outro.
O Inter não tem razão alguma para salto-alto, mas tem andado em campo como quem usasse um. Corre pouco, e isso sem falar na zona aérea, onde perde de cabeça (na entrada da área!) quase todas as disputas – é só ver os dois gols bestas do Vitória, domingo passado. Lentidão até no ar. Voltei a pensar em velocidade. O Grêmio, de quem ninguém esperava nada antes de o brasileirão começar, é o Kubica, o polonês. O Inter é o Rubinho.
E sempre com aquele sorriso amarelo e o dedo levantado em sinal de positivo. Só se for pra próxima.
Mas... e as chances do Inter? O árbitro é que não é. Bem, pode ser. Tirando o Gaciba, o Simon, quem mais?, a verdade é que os árbitros são os maiores perebas do futebol atual. O nível da arbitragem tá mais ou menos como o do futebol praticado pelo Inter. Pode emparelhar o clássico. Os melhores, hoje, são os gandulas, que sabem conduzir um jogo e decidi-lo na hora certa.
Outra chance do Inter (por essa eu rezo): a chuva. Uma chuva torrencial, daquelas de inundar o campo, tornando-o impraticável. Adiar o jogo não resolveria: a surra somente seria adiada. Mas aí, vamos ser realistas. Falávamos agorinha mesmo dos péssimos árbitros. Mesmo com campo sem condições os homens de amarelo (antes eram de preto) costumam dar condições para que a partida se “realize”. O que acontece? Bola trancando na poça ali, bola travando na poça lá, bola parando na poça acolá, e os 90 minutos vão se arrastando com uma espécie de dança de bêbados, sem lógica alguma – nem mesmo a do acidente. Campo molhado de fato tira até o acidente porque a bola simplesmente não desliza.
Sim, tem a bola aérea, molhada, resvaladiça. Neste caso, não existe goleiro que se garanta na hora de tentar segurá-la. Quem sabe. Essa lei vale para todos. É puro acaso, e contra ele não há quem vença.
Nem o Grêmio. (28/06/2008)
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