domingo, 26 de abril de 2009

O ATELIER DA PALAVRA

A poeta e artista plástica Sandra Ling, à luz do post anterior,
cria em cima do decálogo proposto e faz outro percurso, amplia as direções,
vasculha as possíveis liberdades. O que era “oficina” vira “atelier”,
mais próximo da casa, e o que era “escritor” vira “palavra”,
conceito mais amplo.


Só vivendo para ter palavras.
Escrever não tem hora para começar, e cabe a cada um ser fiel a seus impulsos, sabendo-se ouvir para poder falar.
Deixe a criança descobrir o mundo através de seus próprios olhos, próprios pensamentos, próprios desenhos, deixe-a principalmente brincar, deixa-a ser criança.
Uma criança depois que aprende a desenhar nunca mais consegue fazer aqueles traços espontâneos de grande beleza e vivacidade da infância, depois será um desenhista que a gente olha, vê que faz um desenho maravilhoso, mas é de adulto. Para escrever também acho que a frescura das palavras e das idéias é como a mente de uma criança, original; portanto, diria aos pais (que sempre se antecipam para que o filho tenha o que eles não tiveram), não se precipite em nada, principalmente com a leitura. Ter livros na casa, os seus, os seus prediletos, é a melhor forma de um dia seus filhos se interessarem pela leitura, mais do que comprar para eles ainda muito cedo.

Com um adolescente acredito que a palavra brincar troca de nome e vira namorar, namorar o outro, a vida, a natureza, descobrir mais, estar presente, olhar, observar, sentir, sofrer, errar, passear, viajar, e, sobretudo, pensar – para depois ter o que escrever.

Ao adulto é preciso que não perca nunca sua criança para conseguir criar, escrever, sim, escrever – este ato que será desenvolvido lendo, lendo, lendo por toda a vida.

Cada pessoa tem a sua hora para se iniciar na escrita. Alguns iniciam bem cedo, como um forte chamado. Porém para muitos é um processo que se instala nas mais diversas fases.
Pode se iniciar com frases lidas, frases das quais gostamos bastante, copiando-as; pode ser escrevendo pensamentos que nos marcaram e que tenham forte significado para nós, ou, mesmo, algo que precisamos pensar acerca de, ou qualquer coisa que nos abrace num certo momento. Não existe um jeito único de começar, nem do que escrever e nem um tempo que seja o adequado ou o melhor para isso. Simplesmente escreva se tiver vontade e mesmo necessidade, mas, insisto, não tenha pressa de nada: a pressa atrasa, pois tira você do caminho de achar sua essência, e isto leva tempo, principalmente para achar um gênero. A busca é de encontrar o que você tem a dizer, e o modo aparecerá pela repetição, uma vez que quando gostamos de algo, fazemos várias e várias vezes. Com a repetição, o tal gênero irá certamente revelar-se.

E quando você tiver em sua gaveta, bem escondido, escritos seus, muitos, olhe o conjunto, que é o mesmo que olhar para você mesmo, e sinta o que mais lhe agrada, que pode ser o som, o significado, a forma. Você vai descobrir ali a semente para desenvolvê-la ao longo da vida.

Selecione o que mais tenha significado para você e nesta hora acho positivo então procurar uma oficina do gênero escolhido no momento (que poderá mudar ainda ao longo do processo), e ouvir alguém mais experiente para lhe mostrar caminhos, abrir mais seus olhos, lhe indicar leituras – de alguma forma, tudo isso pode ser decisivo. Mas também não esqueça que qualquer coisa que você escreve é importante. Pode não ser para os outros, para o crítico, mas para você é você naquela hora em que você criava, é o seu melhor naquele instante. Então guarde para si, não joque fora, não precisa mostrar para ninguém suas primeiras escritas, mas guarde.

Depois, a cada texto, acostume-se a deixá-lo dormir um pouco para retomá-lo com outro olhar num outro dia, num outro estado emocional, com outro ritmo, pois assim como as tintas de uma pintura de um dia para outro mudam de cor ao secarem, as palavras não mudam, mas nós mudamos, e este outro olhar sempre verá coisas novas, se necessário coisas a mudar ou não.

Mostre-as a algum crítico competente, que será um ajudante, um alerta, mas não deixe também de mostrar ao seu amor, a seu melhor amigo, a seus filhos, mostrar apenas como se lhes estivesse dando um beijo, dando um pouco de si e, assim, conseguindo ouvir a crítica caseira.

Quando o seu texto ou poema ou seja qual for o gênero escolhido estiver pronto, um livro já montado, seja exigente na hora de publicá-lo.
Seja exigente na mesma proporção que você se exigiu ao fazê-lo.

Saiba ouvir os elogios como um aditivo, uma motivação, sem nunca esquecer que o elogio é para o que já está escrito. O que virá vai depender do foco que você continuar a manter. Escrever será sempre um desafio para consigo próprio, a cada texto novo.
Entre no desafio, entre na vida. (26/04/2009)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A OFICINA DO ESCRITOR

Depois de quarenta anos lutando com palavras (a luta menos vã) dá para afirmar: escrever é um ajuste de contas com a verdade que ficou oculta e ameaçava não ser descoberta nunca mais. Uma isca para pescarmos a emoção que ameaçava ficar trancafiada porque sem ter uma voz que a traduzisse.

A literatura é essa voz forte o suficiente, expressiva o suficiente para dizer o tamanho todo dessa emoção.

E aí, se não escrevermos, trairemos a nós mesmos. Trairemos a todos que poderiam saber de nós o quanto estamos vivos. Trairemos a vida, se não escrevermos.

E se escrevermos, a vida tornar-se-á ainda mais viva, mais bela, mais legítima porque melhor desenhada – em palavras. Os que leem poderão escutar a vida como ela nunca foi escutada antes.

Os que desejam escrever – se desejarem de fato – escreverão. E se hesitarem aqui e ali, um dia ou outro, insistam, briguem consigo mesmos, mas... escrevam!


DEZ MANDAMENTOS PARA ESCREVER O MELHOR QUE FORMOS CAPAZES DE FAZER E, ASSIM, O MELHOR...

1) Leia, leia, leia. Só lendo muito entraremos em sintonia fina com a prosa do mundo, com a poesia do mundo, com as ideias do mundo, com a música verbal, o ritmo sonoro dos animaizinhos que se escondem nos dicionários ou que saltam caoticamente da boca das pessoas, sem um cuidado maior. Lendo, lendo bastante, quando sentarmos para escrever, estaremos tão contaminados de um ruído saudável e rico, de um cinema feito só de palavras mas tão vasto e múltiplo, que na hora de colocarmos nossas ideias no papel, elas naturalmente sairão fortalecidas pelas ideais dos demais, os que publicaram e a quem lemos, e pela forma como eles escreveram, e então nossa forma será mais plena, mais contagiante porque contagiada. Não se pode amar sozinho. Não se pode escrever sem encontrar correspondência nessa fonte viva que é a literatura de todos os tempos. Só mergulhando nela seremos capazes de escrever como escritores de fato, como seres amadurecidos dentro de uma região que é exatamente aquela onde nosso texto deseja habitar.

2) Escreva, escreva, escreva. Escrever não é escrever. Escrever é REescrever. O exercício contínuo da criação nos torna – assim como um ginasta que treina todos os dias – capazes de atingir plenamente o que planejamos criar. Não basta querer, desejar, ou, até mesmo, estar inspirados. É preciso, como um jogador de futebol que treina quase diariamente, ficar em forma para que nossa vocação e nosso dom encontrem seu ritmo perfeito, adequado, suficiente. Primeiro eu faço um copião, quase – desculpem a palavra – um vômito. Depois eu viro leitor de mim mesmo, mas um leitor o mais distanciado possível, e transformo – numa segunda redação – o que foi uma enxurrada num curso d’água melhor dirigido, e afinado. Mas essa primeira revisão e segunda escritura (ou REescritura) é apenas o segundo passo de, digamos, uns cinco.

3) Deixe o texto dormir. O texto, como o ser humano, se não dorme fica perturbado, imperfeito, precário, doente. O texto precisa de tempo, e depois de um certo tempo, pode ser encarado por seu autor sem as ilusões com que seria encarado na primeira redação, quando o autor ainda está um tanto cego, impelido pelo primeiro empurrão que é a própria ideia ou necessidade de escrevê-lo, ideia quase nunca clara e, sobretudo, em termos de acabamento, nebulosa, com altos e baixos. Depois de dormir o suficiente, o texto se mostra tal como é, e quem o escreveu já consegue um distanciamento maior, melhor, e não se sente tão comprometido assim ao ponto de ter dificuldades de passar-lhe a faca! Nesta hora, passa mesmo. Corta o que está demais. Completa o que está de menos. É a terceira escritura ou a segunda REescritura. Poderão haver mais uma ou duas, nunca se sabe.

4) Mostrar a quem sabe, a quem deseja e costuma ler. Com todo o respeito aos amores e aos amigos e aos familiares, mostre o que você produz em literatura a quem conhece literatura. A outros escritores, críticos, a gente pouco comprometida afetivamente com você e que por isso mesmo saberá lê-lo sem enfrentar dificuldades na hora de apontar alguma insuficiência no seu texto. Gente diante da qual você pode ficar absolutamente confiante quando receber um elogio, porque será um, digamos assim, “elogio a frio”, isto é, ditado tão-somente pelo reconhecimento do seu talento, da qualidade do seu texto. Aliás, o elogio terá sido feito ao que você escreveu, não a você. Você pode ser amado e escrever muito mal. Isso é um perigo. Você pode escrever muito bem e não ser amado, o que é uma desgraça. Convém não confundir as duas condições. Seja amado pelo que é como pessoa (pelas pessoas que o amarem, algo fora da literatura) e seja criticado pelas pessoas vocacionadas para lê-lo e analisarem o que você faz, sem cometerem o equívoco de dizer que você é um gênio só porque é simpático ou dizerem que é um medíocre só porque você não dá bola pra elas. Seu texto tem vida independente de você e é assim que deve ser julgado. Portanto, por pessoas independentes das suas relações. Ou, no mínimo, mesmo sendo das suas relações, com a independência necessária (neste caso, o que não é fácil de encontrar).

5) Saiba receber uma crítica. Ou melhor, vibre. Diz o “Eclesiastes”, “Vaidade, tudo é vaidade.” Quem legitimamente deseja escrever, imagino eu, deseja escrever bem, fazer o melhor (o que vale para todas as áreas). Ora, se queremos o melhor, não queremos cometer erros, realizar obras frágeis, imperfeitas. Assim, todo senão, toda crítica que nos alerta das nossas limitações, que nos avisa que o que fizemos não está bem, puxa!, é uma bênção. É preciso ter uma qualidade humana admirável – a da autocrítica – para estarmos preparados para receber a verdadeira crítica, aquela que não nos leva para compadres e que têm a honestidade de nos acordar, avisando que as coisas não correram bem dentro do projeto ao qual nos propusemos. É preciso vencer a barreira da vaidade, do orgulho, para só aí compreender de fato o que esta crítica diz e então enxergarmos com clareza as deficiências do que eventualmente cometemos para que não venhamos a repeti-las no futuro e para que consigamos salvar o projeto defeituoso, aperfeiçoando-o a partir dessa crítica aparentemente nada amiga, porém, na verdade, esta sim, crítica amiga, porque produtiva, útil, não enganadora.

6) Desconfie dos elogios. Ou melhor, preocupe-se. Conheço mais injustiças a favor que injustiças contra. Ou seja, gente que não escreve nada mas que, por ter boas relações políticas, acaba sendo “engolida” como se engole sapos. Medíocres considerados existem milhares. Gênios incompreendidos, uma dúzia, se tanto. É preciso ter a força e a coragem de dispensar os elogios cujo único objetivo é manter a “casa em ordem”, ou seja, visando apenas os interesses da boa convivência (que “boa convivência” é essa se ela só esconde a verdade?). Eu aprendi, desde cedo, que a pessoa que me dava um tapinha nas costas e dizia “Paulo, está uma maravilha” não tinha nada para me ensinar e, na verdade, era inconfiável. E que a pessoa que me fazia uma cara de preocupada, ou constrangida, e me comentava, “Olha, Paulo, bem, quer dizer, sabe?, isto que escreveste, até que começa bem, mas, lá pelo meio, eu acho que tu te perdes um pouco, e tem muita informação sobrando, desnecessária, e tu deves centrar o foco da tua narrativa no conflito central das personagens, e não ficar dando tua opinião sobre as coisas” etc., a pessoa que me mostrava que eu tinha uma pedra no sapato, esta estava me fazendo um enorme favor. Melhor ainda, estava me salvando: fazendo com que eu ganhava anos de vida, economizando um tempo incalculável que eu perderia em enganos se ela ficasse, por educação, só me enrolando, dizendo que estava bom e pronto. Se safando socialmente em nome da camaradagem enquanto eu continuaria, enganado, cometendo os mesmos e velhos erros. O elogio é terrível. Até mesmo quando merecido, ele só não é dispensável (afinal, é merecido), mas deve logo, logo ser deixado para lá. Porque se o escritor concentrar-se demais no elogio recebido, grande é a chance de ele vir a relaxar, descuidar de seu processo criativo. Toda criação geralmente brota de desafios e enigmas. E quem se deita na rede dos elogios recebidos, não se sente desafiada e nem enxerga enigma algum a sua frente, só certezas. E de certezas não se constrói nada além do que todos nós já conhecemos. Perde-se a capacidade para abrir novos caminhos e arriscar. E então viramos escritores comuns, previsíveis, desinteressantes. Movidos só a elogios que buscamos satisfazer e não à saudável exigência de nos superarmos a cada novo livro. É essa superação (nascida sempre da autocrítica) que garantirá a cada novo livro um novo – e grande – passo. Ou seja: apenas a insatisfação é capaz de semear o que têm chance de satisfazer de fato.

7) Escolha um gênero. E fique nele. Dificilmente um único escritor é um bom contista, um bom poeta, um bom romancista, um bom cronista e um bom ensaísta. Isso até existe, mas são exceções, tão raras, que entre 500 nomes que facilmente lembraremos de gente que acertou num único gênero encontraremos somente dois ou três nomes que acertaram em mais de um. Até dois gêneros pode ser, mas gêneros, digamos assim, irmãos. Como prosa de ficção e crônica, vide Luis Fernando Veríssimo. Ou o argentino Julio Cortázar, em narrativa longa (seu romance O JOGO DA AMARELINHA, por exemplo) e os contos, pelos quais ele é mais conhecido (AS ARMAS SECRETAS, OCTAEDRO e mais uns dez títulos). Exceções. A regra é Drummond: poeta, mesmo que tenha escrito um livro de contos e uma meia dúzia de livros de crônicas. Erico Verissimo é romancista, mesmo que tenha escrito livros de viagens, de contos, de memória. Na verdade, muitos autores aventuram-se em mais de um gênero, mas acertam, plenamente, em só um. É normal. Todos nós, afinal, temos uma dicção, um ritmo, um olhar sobre o mundo, os homens, as coisas, a vida. Essa ótica é uma das definições de gênero. Erico Verissimo tinha fôlego de romancista, e seu fôlego contaminava sua imaginação, que convocava várias personagens e várias situações só cabíveis numa narrativa longa, como o romance, nunca como o conto. Uma vez eleito qual o gênero para o qual você se sente vocacionado, aconselho a que leia os melhores autores desse gênero, para que você fique na freqüência certa do gênero que escolheu. Quando dedicar-se a praticá-lo, vai já estar familiarizado com os desafios naturais do gênero que desejava desenvolver. E poderá vencer seus desafios com mais facilidade. Como no futebol, goleiro é goleiro, centroavante é centroavante, na literatura, romancista é romancista, poeta é poeta, autor de literatura infanto-juvenil é autor de literatura infanto-juvenil. Quem não conhece Ziraldo? Quem não conhece O MENINO MALUQUINHO, FLICTS, ABZ? Certo. Mas sabiam que ele escreveu um romance para adultos? Deu tão errado que ninguém lembra nem o título do livro. Nem eu.

8. Publicar mal é pior que ficar inédito. Uma vez escrito seu livro, da melhor forma e com opiniões confiáveis, é hora de publicar. E aqui entra uma revelação que poucos sabem. Publicar bem é tão difícil quanto escrever bem. E publicar por publicar é publicar mal. Nesse caso, melhor ficar inédito. Seu livro ainda tem chance em concursos literários para inéditos e continua a ter chance com uma boa editora, vá lá se saber. Publicar bem é simples, embora complicado. TEM DE SER somente com as boas editoras, que são RARAS, repito, RARAS no Brasil, umas oito ou dez, não mais que isso, entre mais de 300 editoras associadas na Câmara Brasileira do Livro. Só estas oito ou dez farão: 1) uma edição visualmente atrativa e com um acabamento caprichado e seguro, costurado, com capa plastificada; 2) uma boa distribuição e comercialização, o que é fundamental para seu livro circular e, portanto, ganhar visibilidade; 3) uma boa divulgação junto à mídia, proporcionando chances de você ser comentado nos espaços culturais; 4) promoções em Departamentos de Marketing (as boas editoras, RARAS, repito, têm departamentos de marketings). 90% das editoras nunca tiveram, não têm nem terão isso. No Rio Grande do Sul só existem duas editoras que se pode chamar de profissionais. Uma publica literatura, outra, só livros técnicos. Todas as outras estão em Rio e São Paulo. Nenhum outro estado possui uma editora decente.

9) Antes de publicar, teste seu livro em concursos literários. Os concursos literários são a melhor vitrine que existe para o autor ainda não consagrado. Mas existe um importante cuidado que devemos tomar: o mesmo da crítica do compadrismo e o da crítica para valer vale para os concursos. Só vale a pena participar de concursos sérios. Poucos são. A maioria dos concursos são caça-níqueis, cobram inscrição (nunca participe de um concurso que lhe cobre inscrição) e dão de prêmio apenas diplomas, troféus ou publicação numa coletânea com mais uma dúzia de gente que nada tem a ver com a literatura que você faz. Concurso sério SEMPRE tem dotação orçamentária para pagar um prêmio ao vencedor, e isto já é um atestado de seriedade, de acerto em dar a devida valorização ao ganhador. No Rio Grande do Sul, prêmio sério é o Josué Guimarães, da Jornada Nacional de Passo Fundo, por exemplo. No Brasil, o Prêmio Luiz Vilela de Contos, o Ignácio Loyola Brandão, de Araraquara, em São Paulo. Estes todos para contos isolados. Já o Prêmio Minas de Cultura, e o Prêmio Nacional de Ficção da Bahia são para livros inéditos adultos. Para infanto-juvenil, o Barco a Vapor, das edições SM. E ainda tem o Casa de las Américas, em Cuba. A cada ano mudando de gênero (conto, romance, infanto-juvenil, ensaio). Para livros publicados, o Jabuti, o Portugal Telecom, o Cidade de São Paulo, o Biblioteca Nacional e o da Academia Brasileira de Letras. Nos prêmios para livros inéditos, você beliscando um desses, já terá a porta aberta de alguma editora. Os editores consideram um prêmio desses que citei um aval mais que suficiente para eles publicarem você. Vale a pena tentar, não é?

10) Não ser premiado não significa nada. Insista! Conheço maus livros que ganharam importantes prêmios (às vezes a comissão julgadora é muito heterogênea e não chega a acordo algum nos seus votos, levando a um resultado imprevisto) e conheço ótimos autores que concorreram a, digamos, dez prêmios, não ganharam nenhum, e depois de publicados caíram nas graças da crítica. Portanto, ganhar um prêmio é ótimo, ajuda na sua carreira, mas não ganhar não significa que seu trabalho não tenha valor. (20/04/2009)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

O MORTO QUE NÃO ENCONTRAVA O CÉU


Pessoal, taí a carinha do meu novo livro, já à disposição dos interessados. A seguir, informações sobre o moço.

O morto que não encontrava o céu
de Paulo Bentancur
WS Editor
Série Infanto-Juvenil – 40 p. – 16 x 23 cm
ISBN 978-85-7599-099-5
R$ 16,00
Faixa etária recomendável: 9-12 anos


Fim de semana. Sábado e domingo com ótimas chances de dar em aventura. Felipe, um menino pra lá de curioso, sai a caminhar pelo bairro, o seu mundo particular e, também, o mundo de tanta gente que mora por ali ou não mora, mas costuma passar pelo lugar. Felipe gosta de um bom papo, não resiste a investigar cada detalhe da realidade. Mas... O que é a realidade? Ora, aquele cara que agora mesmo vem ali! Quem? Aquele sujeito! Rosto estranho. Modos estranhos. E Felipe, sem dar-se conta, foi parar perto demais do cemitério.

Diante de Felipe surge um homem muito difícil de ser descrito. E que busca uma coisa que ninguém busca. Pelo menos ninguém que até aquele dia Felipe tenha conhecido.

História de terror, com todos os sustos imagináveis e inimagináveis. E não bastasse o terror, tem o humor, muito humor. No mínimo para a gente rir de nervoso. Aquele encontro muda a vida de Felipe. Muda para sempre. Ele passa do susto inicial a sustos maiores. Até o susto derradeiro: não ter certeza se está... vivo!

Pedidos pelo fone/fax: 0 xx 51 3029 7018 / 7028 / 7038
E-mail: wseditor@wseditor.com.br
Home-page: http://www.wseditor.com.br
Rua Bernardo Pires, 492 – 90620-010 - Porto Alegre - RS


Era isso, por enquanto. A partir deste livro, muita coisa vem por aí. Espero que nada parecido com o que aconteceu a Felipe... (16/04/2009)

TAÍ O NOVO LIVRO

Taí o novo livro, O Morto que não Encontrava o Céu, infanto-juvenil, indicado para a faixa entre 9 e 12 anos. WS Editor, do inquieto e criativo Walmor Santos.

E O TREM ANDA

Bem, uma hora o trem que andar. Os bois desatolarem a carroça. O motor do carro pegar. O fôlego voltar. A roda-viva da vida girar. Uma hora tem. E vem.

Nos dias 22, 23 e 24 de abril estarei em Santa Rosa, dando a minha oficina Mistérios da Criação Literária, isto é, passar umas dicas interessantes para quem deseja ter uma redação mais criativa, mais fiel à sua própria voz, além de visitar quatro escolas e conversar com a gurizada sobre esse bicho estranho: o escritor. Sobre essa coisa maravilhosa que ele é capaz de fazer: livros. Então tomo o trem. Ajeito-me na carroça. Seguro o volante. Solto o corpo. E vou, vou, vou. Voo. (16/04/2009)

sábado, 4 de abril de 2009

É HOJE!


Este texto é para Hermes Marengo de Ávila, o colorado mais sério que conheci, para Gilberto Buchmann e Jorge Ritter, os mais espirituosos, para Luis Fernando Verissimo, o mais inspirado. E para o espírito de meu pai, e para milhões de pessoas.



Conheci o Inter quando, vindo de Livramento, cheguei em Porto Alegre, em 1967. Eu tinha dez anos, idade em que poucas escolhas definitivas se fazem na vida. Talvez só uma seja possível fazer: a do time do coração da gente. E eu fiz.

Dos grandes clubes da capital, o que atravessava boa fase era o Grêmio. Em 1967 ele era hexacampeão gaúcho e ainda ganharia o campeonato seguinte, sagrando-se hepta, na maior sequência até então já vista por aqui. No imediatismo infantil, eu via colegas meus se agarrando naquela miragem: os títulos do tradicional adversário do Inter que, ao que parece, eu sabia que eram só uma fase. Quando se é criança não existe esse conceito de “fase”. O agora é, sempre, a eternidade. Mas era cedo demais para eu sofrer com o triunfo transitório tricolor.

No fundo, tinha tudo para escolher o rival, a não ser o nome: Grêmio. Eu não entendia esse nome. Eu não gostei desse nome: Grêmio. Eu já me embriagava com as palavras, já vivia a vida também a partir delas. Grêmio parecia coisa de preguiçoso. Afinal, eu raciocinava – na minha maturidade dos dez anos, suficiente para tanto –, um clube é uma agremiação, um grêmio. O Inter é (perdão, clube amado, com quem casei há 41 anos) um grêmio que tem nome, e que nome: In-ter-na-cio-nal. O Grêmio era um grêmio que simplesmente abdicara de ser batizado, como se só isso bastasse, chamar-se pelo gênero, sem identidade. Para mim, animal da palavra – e do futebol – não era suficiente. Mais, era imperdoável.

Quem acompanha futebol sabe tudo o que aconteceu depois. O Internacional respondeu à sequência de títulos regionais do Grêmio com a maior sequência até hoje registrada nos grandes centros de futebol do País: foi octacampeão, de 1969 (eu estava há dois anos esperando para brandir minha primeira resposta) a 1976. Foi o primeiro time gaúcho a ganhar um campeonato nacional. Aliás, a ganhar os três primeiros. O único até hoje, entre os times do Brasil, a ganhar um campeonato inteiro sem perder uma única partida (em 1979). Nos anos 80 e 90 o Grêmio passou por outra fase na qual aprendi a dor dos amantes. Meu Inter, nosso Inter (o time me jogava no mundo, me tornava povo além dessa abstração do conceito, estranhos com a camiseta vermelha falando comigo na rua ao me identificarem colorado), o time de centenas de milhares de pessoas em minha cidade – o Inter me adotou antes que Porto Alegre me adotasse: levei vinte anos para começar a gostar daqui –, de milhões no meu estado, esse Inter amargava a ascensão do rival e – como nesse tipo de pódio só tem lugar para um – crescia à sombra para ver a luz dos fogos de artifício da vitória, nada ilusórios. E a luz veio. E como veio, a partir da entrada do século novo.

Em 2006, com a Libertadores e o Mundial Interclubes. Em 2007 com a Recopa. Em 2008 com a Sulamericana. Em 2009, sem nem fazer pausa para comemorar (afinal, amanhã tem Grenal, não menos que isso!), realizando a melhor campanha em estaduais de todos os grandes clubes brasileiros, invicto ainda já à beira de uma quarta-de-final e com o maior ataque e a maior goleada (vindo, aliás, da maior goleada registrada em finais da era moderna, os 8 x 1 contra o Juventude em 2008). É uma “fase”? Pode ser, mas nem por isso deixará de empurrar a história do clube (com nome!) para uma biografia com passagens eternas. E isso faz o menino em mim dar um sorriso aberto.

E, talvez, a coisa mais séria, mais impressionante, mais reveladora. O Inter foi a ponte entre eu e meu pai, o começo, o selo e a história da nossa amizade. O Inter nos pôs juntos para vibrar e para praguejar. E não lembro de nenhuma outro tipo de situação na vida no qual tão repetidamente ficamos lado a lado: ouvido colado no ar, escutando no rádio os 90 minutos que nos levariam da esperança a todas as soluções. Bastava uma vitória.

Isso o Inter tem me dado mais que quaisquer outras áreas do que chamamos vida e que o futebol tão bem compreende e tão bem responde às suas absurdas exigências. Na transcendência de amar um time e ser correspondido por ele, quem torce sabe que no dia em que seu clube completa cem anos de vida, alguém muito importante da família está fazendo aniversário. Na verdade, a família inteira.

Bem, só os parentes colorados. E eles são muitos, ainda bem.

Hoje é o meu dia, mais que o 20 de agosto, em que nasci. O 20 de agosto foi contingência, o dia de hoje foi escolha. (04/04/2009)