Procura-se um escritor que faz as vezes de blogueiro e um blogueiro que faz as vezes de escritor. Sabe-se que semana passada, em Rio Pardo, falou para cerca de quinhentos educadores sobre o ato de escrever, de ler, e sobre o que a palavra é capaz de fazer por cada um que arriscar alto em suas fichas, nas dela, nas da palavra. A escrita.Depois dela vem todas as outras: as escutadas, as ditas, as pensadas, as sonhadas, as caladas, as explodidas, as engolidas e que não descem, as engolidas e que descem rápido.
Depois disso tudo vem a palavra escrita de novo. E de novo a palavra escutada e a dita e então a sussurrada como uma brisa.
Onde está o blogueiro que vivia aqui? Sete dias de silêncio. Blog propõe-se diário, é a toda hora. Não quer saber de uma semana de mudez. E os acessos se multiplicando. Gente que o relê e novos leitores entrando na nova casa enquanto o autor, viajando, divulga o blog e o site que não alimenta como deveria? É possível. Tudo é possível depois desse cenário de desolação. Desolação?! Quatrocentos acessos em quatro, cinco dias, e o cara fala em desolação? Pois é: desolado fica o leitor, o internauta, o blogmaníaco. Ler um bom blog é sinal de buscar de informação, sensibilização diante do fenômeno que é a expressão verbal tateando no escuro – ou no claro, porque sempre se está tateando. Mas um blog que o sujeito larga à deriva por sete dias? Só blogmaníacos. Ou não.
Ou gente que recém o descobriu. Porque ele esteve dando oficinas literárias e traduzindo textos e viajando. Porque foi numa escola onde acontecia uma feira literária e – surpresa! – deu mais autógrafos que em sua sessão mais concorrida em 15 anos de Feira do Livro de Porto Alegre. Como o normal é o autor ser bem-recebido mas não se achar um único de seus livros na feirinha (porque o distribuidor não os conseguiu junto à editora, que fica em outro estado, e patatipatatá...), essa sessão de autógrafos que demora quase um turno inteiro no qual devia haver outra palestra deixa-o assombrado. E o blog? Pois é, está lá, à espera.
Porém. Logo outra viagem. Mais escolas. E, súbito, sim, súbito, ele encontra gente que o leu, e que leu também Machado de Assis. Aliás, leu Machado de Assis e, no embalo, o leu a reboque. Tanto faz. Leu. Perguntou. Aplaudiu. Riu. Bocejou. Exaustão após quatro palestras e bate-papos num dia corrido, tensão, comoção e risos entre pré-leitores e olhares oblíquos em meio a leitores adolescentes. E olhares firmes em meio a olhares adultos. E olhares feito mais que de olhos, de um imaginário com as lentes grossas, de longo alcance, da palavra impressa. Mas e o blog?
Terminam as viagens e o blogueiro chega em casa. Sem laptop, sem saber a quantas anda o blog e, vai ver, assusta-se: tantos acessos! Precisa fazer alguma coisa. Mas amanhã tem outra viagem. O Brasil é grande, extenso. E pequeno: o sujeito tem de fazer mil excursões para divulgar títulos que não saíram na televisão e têm cinco anos de exposição nas livrarias. Ao contrário, o blog parece andar por si mesmo. Os acessos provam que as visitas não cessam, que é lido. Quem sabe se, para variar (mas para variar mesmo), ele escreva um post em que flagre o abandono onde devia haver presença e a presença plena onde houve abandono.
O mundo é estranho. Já é um começo. (10/07/2008)
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8 comentários:
Bem-vindo à casa velha, caro autor. Já estava com saudades. Você é daqueles aparentes carrancudos que não conseguem disfarçar o humor. E desconfio que é daqueles ligados em humor, do mais refinado, que acabam resvalando na melancolia. Seu ano está mesmo muito machadiano!
Não se ausente. É o conselho de um amigo. Ou melhor, de um leitor.
Carlos César Kluguer
São Caetano do Sul / SP
Paulo,
muito bom teres encontrado tempo para nos contar os motivos desta ausência.
Que maratona,heim? Mas que bom,correr faz bem, mostra que estamos vivos para o trabalho, para o mundo.
Desejo que a correria continue, que o reconhecimento do autor, da pessoa incrível que és seja cada vez maior mas, que também não nos abandone.
Acredite: sentimos tua falta!!! Já te falei, este blog é uma "cachaça" rsrs.
Beijo
Joana Giacomazzi
Sim senhor... tudo bem.
A vida é corrida até para escritor.
Bem-vindo, estávamos com saudades.
Beijo de fã.
Suzana Alcantara
Aí, colorado! Nosso time indo bem, o "outro" lá indo mal e nem uma palavra tua!
Olha, desculpe, leio sempre teus textos mas, desculpe mais uma vez, não faço comentários, é uma falha eu sei mas hoje, tenho que dizer:que bom que foi só falta de tempo.
Bem-vindo, tomara não nos abandone mais assim.
Abração
Joaquim Machado
Sabemos que és ocupadíssimo mas não tens o direito de nos deixar por tantos dias...queremos sempre ler um novo texto.
S.T.R.
Pra nossa alegria, o "blogueiro que ainda vive aqui".
Bom retorno,Paulo.
Saulo Duarte
Bem, deves saber como são os seres humanos: sempre querem mais. Te mostras disposto e o que a gente faz? Ora, pede mais. Mais, pode ser? Tenho uma sugestão: que tal refletires (gosto muito, eu e um grupo de amigos que te lemos, da forma como refletes, meio cronisticamente, meio como crítico, meio como filósofo sem pretensão a sistematizar as coisas) sobre o que não desejas escrever. Quais as coisas que te chateiam, aquelas a que te recusas perder teu tempo e emprestar tua arte para pensá-las e retratá-las. Esperaremos essa.
Lúcio e a turma de Sampa – bairro Paraíso.
Não fique nunca sem escrever,te queremos empre aqui,amado.
Suzana,Carla e Lu
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