sábado, 12 de julho de 2008

BREVE CAPÍTULO DE AUTO-UFANISMO

Dia 3 de julho postei neste blog um texto, “A Palavra Desenha o Mundo”, tentativa (por isso talvez excessiva para um blog) de apreender o fluxo verbal através do qual busco capturar algum ritmo do mundo e, se menos – provavelmente menos –, de mim mesmo, emergindo içado por frases que funcionam como forças de uma energia incalculável.

Dia 12, agora, nove dias após (a internet não nos brutaliza ao ponto de matar o nosso tempo pessoal, tanto nossas pressas quanto nossas demoras), o escritor W. J. Solha, uma das mais fortes referências do que de mais criativo e rigoroso se realiza na literatura contemporânea no Brasil, lá da Paraíba, deixa um comentário ao texto, comentário que não resisto em destacar aqui. Não por vaidade (seria vaidade afirmar que não sou vaidoso; como posso afirmar semelhante coisa? Mas, creiam, acredito que não seja), não por vaidade, repito, mas por alívio. Temi pela ambição do texto. E a ambição, a julgar pela reação do exigente e diferenciado Solha, foi justamente meu maior trunfo.

Exagero? Se exagero, então Solha exagera também. Prefiro acreditar nele – sobretudo porque tenho acredito através de sua obra, que leio desde a década de 80. Leiam-no comigo:

Paulo,

acabo de ler "A Palavra Desenha o Mundo" e o que posso lhe dizer é que me parece um maravilhoso exemplo de stream of consciousness que poderia se estender num romance de seiscentas páginas sob uma epígrafe tirada de Enzo Paci: "Nunca estamos completamente acordados, assim como não estamos jamais num sono completo", ao que ele acrescenta: "Durante o sono, a linguagem fala pelos sonhos. No estado de vigília, a linguagem fala com palavras de uma cultura" etc. Você parece ter encontrado um corredor (daqueles de Kubrick em "O Iluminado") depois daquele seu notável poema "Despertando" (de "Bodas de Osso"): "Mal amanhece o dia/ largo a minha fênix/ volto à vaca-fria". A vaca-fria, aqui, é substituída por um jorro de logos spermatikós. Sua mente, liberada pelo surto criativo, funciona como esses filmes de animação em que o sujeito traça uma porta na parede da prisão e sai por ela, sem limitações, mais, de espécie alguma. Deu-me tal prazer sua leitura, companheiro, que fiquei, aqui, dizendo "quero mais".


(W. J. Solha, autor de "História Universal da Angústia",
João Pessoa, PB.)


Continuarei, continuarei – o quê? Um comentário (um texto, melhor dizendo) desse nível emudece, momentaneamente, o sempre possível devir a ser expresso. E, súbito, me paralisa e me empurra na direção de receber o abraço, o confronto, o complemento e o crescimento de uma recepção que não apenas encontra-se cara a cara com o que escrevi. Antes o transforma, e para melhor. (12/07/2008)

4 comentários:

Anônimo disse...

Ei, notável blogueiro:

se ninguém gava, Zeca gava (rsrsrs). Também, dependendo de quem nos aplaude, só nos resta entrar dentro do estímulo desse aplauso, pelo visto, amplo.

Vê se não tira férias de vez em quando. Com tua permissão, considera-te (por meu vício em ler blogues como o teu) comprometido diariamente, se possível. É possível?

Eduardo Lopes Ribas, Curitiba, PR.

Anônimo disse...

É verdade. Existe comentário. Comentário elogioso. E tem cometário que vai muito além do elogioso, tipo esse aí que você comenta, Bentancur. Esse aí vale leitura de todo os seus leitores. Seu site tem essa grande qualidade: não cai na esparrela do besteirol. Parabéns.

Arthur González

Anônimo disse...

Paulo,

sinceramente? Você escreve bem pra caralho. No entanto, às vezes, há um tom solene no tanto que você diz. Menos, menos. Não no que você diz, veja bem, mas no tom. É como... Deixe eu pensar: é como se você tocasse uma música grandiosa, porém o volume está alto demais, entende?

Armando M. Freitas, Curitiba, PR.

Anônimo disse...

Paulo,

escrever é ler, não é? É o que de certa forma entendo no que você quis dizer com est post. Você escreve, imagino, sem saber exatamente para quem (talvez tendo uma muito vaga noção), sem saber exatamente o quê. É isso? Bem, não quero semear confusão. Fica até irônico. Parece que o texto surge exatamente para gerar um tipo de confusão que mais orienta que desorienta. Se desorienta, é das falsas orientações que todas as pessoas vivem tendo. E se perdendo por ir atrás delas. Atrás de você eu não irei. Mas junto, com seus textos. A cada dia melhores. Sempre escreva e nunca se ufane. Quem se ufana pára de escrever. Entendi (de novo a dúvida) que você, na verdade, pôs em primeiro plano o texto do leitor, o Solha. Neste caso, escritor também. Parece que há muitos deles, certo? Quase tanto quanto leitores.

Júlio César Mattoso