O sujeito, afinal de contas, era
medíocre porque, sendo talentoso, deu vez a um medíocre em sacrifício da
própria genialidade, posta de lado pela dúvida sempre cruel da autocrítica, a
princípio uma virtude, a seguir, um vício. Não acreditava no outro, claro,
porém, incapacitado de crer em suas virtudes e engenho, preferiu render-se ao
movimento contínuo, talvez monótono, da necessidade de afirmação do colega, sem
talento algum, sim, entretanto tornado mais forte que ele diante da indiferença
do mundo.
Por outro lado, que talento o do sujeito que, sendo
medíocre, sentiu a hora única na brecha mínima que foi a dor atroz da profunda
insatisfação do amigo talentoso, e naquele segundo de hesitação deixou-o para
trás, permitindo que ficasse inédita uma novela lancinante do outro, e que as
portas se abrissem ao vazio fútil e fácil que foi então sua ascensão imposta
pelo simples desejo de subir. Desejo que ninguém segura. E que o universo,
feito de matéria escura, aplaude. (07/04/2013)
4 comentários:
Caro Bentancur:
forte,irônico,imprevisto, paradoxal. Gostei muito.
Sérgio Luiz Machado - Campinas, SP.
Impressiona o jeito com que você fala da arte e da natureza do talento ou da falta dele, de uma modo bastante original.
Beijo.
Lúcia Mendonça (Flores da Cunha, S)
Ah, este mundo dos espertos sempre dá bons contos...
Grande leitora que és, Adriane,captas a essência da postagem. Beijo!
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