Certos sites não basta citar. É preciso mencioná-los mais detidamente. Com nome, endereço, e algumas considerações para os mais apressadinhos que talvez só a indicação de um bom lugar para ser visitado não baste. É o caso do site da escritora – mais especificamente contista e poeta – Cida Sepulveda, campineira na geografia mas com um imaginário que transcende, não pela geografia, mas pela contundência de estilo e cenas que podemos comprovar nos livros de poemas Sangue de Romã (Scortecci, 2004) e Fronteiras (Pontes, 2008), e no de contos Coração marginal (Bertrand Brasil, 2007).
Vá direto, sem escalas, a este destino, onde os fracos não têm vez: www.cidasepulveda.com
Lá você vai encontrar nove entrevistas de arrepiar: com Marcelino Freire (esse boca-suja genial), Fabrício Carpinejar (na rotineira exuberância); Álvaro Alves de Faria (um dos nossos grandes poetas vivos, poeta que se demitiu do Brasil e, fiel à língua, aderiu a Portugal, num gesto desconcertante a deixar leitores e – devia – editores de sobreaviso); José Castello, um raríssimo exemplo de rigor e generosidade aliados à melhor crítica possível e constante no país (uma espécie de leitor ideal); Moacyr Scliar, que, depois de dezenas de entrevistas, dá nesse site um de seus mais completos depoimentos; Gonçalo M. Tavares, o português acima de qualquer classificação, provando que Portugal é prodigioso: além de Saramago e Lobo Antunes, tem Gonçalo; Maurício Melo Jr., o homem-livro do Brasil, um militante da divulgação desse produto bastardo e desses personagens definitivamente marginalizados não fosse a resistência e inventividade de Maurício, a dar visibilidade ao autor nacional até mesmo na televisão; Suzi Sperber, oxigênio na academia, visão crítica aguda e democrática para além dos muros universitários; e, claro, eu, numa entrevistas sem contemplações que Mario Goulart orquestrou e que Cida, com muita coragem e competência, editou. Autor exposto, sem pose ou abrandamentos. Como é do jeito de Cida. A generosidade da coragem e, a partir dela, o atalho até a verdade onde ela nasce com a forma e as idéias mais densas e mais incômodas. O leitor não deseja adormecer. O site de Cida Sepulveda, dando voz a outros autores, além da própria e intensa voz da autora, sacode-nos do disfarçado sono eterno. É ir correndo conferir. E depois retornar bem devagar, saindo desse site pensativos, transformados, transtornados, quase claudicantes.
http://www.cidasepulveda.com/ é Tarantino ou os Irmãos Coen a serviço da literatura, para quem gosta de referências cinematográficas. Para quem quer referências literárias mesmo, os nomes dos convidados dizem tudo, a começar pelo de Cida, a responsável pela saudável carnificina. "Carnificina"?! Acho que exagerei. Reflexo de tanta sensibilidade e talento revelados através de uma força que o ambiente do site propicia, sem espaço para a retórica beletrista. (23/02/2009)
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2 comentários:
Boa dica, Bentancur. Muito obrigado. A Internet tem muito a oferecer e muito a nos decepcionar também. Por isso, um ótimo blog como o seu quando dá uma dica assim, a gente confia de olhos fechados. Ops, olhos abertos. Vou conferir. Grande abraço e, mais uma vez, grato pelo serviço de utilidade pública (risos).
Rinaldo Alvarez – Belo Horizonte, MG
Paulo,
já conhecia esse site, mas, sabe como é, a gente não é tão fiel nessas visitas, e acaba ficando meses sem voltar. Fui lá, conferi. Puxa, sua entrevista tá uma barra! Corajosa, honesta, e, pelo jeito, isso me faz admirá-lo ainda mais. Quem disse que literatura é pra elite (desculpe a palavra anacrônica)?
Maria Luísa Bernardes, Santa Maria, RS.
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