Você deseja, como todos, se dar bem.
Mas “se dar bem” não pega bem, sobretudo dito assim, a seco.
Na verdade, você quer mais. Você deseja ter alegrias com algumas constância e paz ao máximo. A paz acariciada pelo prazer de, inundado de oxigênio por todos os lados, não ser uma ilha, não, e sim alguém que habita sensorialmente e – sempre se quer mais – intelectualmente uma região imensa, inesgotável.
Você quer demais essa experiência. Não, você não quer “uma” experiência, mas várias, sem-conta, você almeja a soma e o predomínio do que faz seu corpo, sua mente, você de forma inteira.
É preciso persistência. Por incrível que pareça (e a idéia até nos faz rir), ser você mesmo necessita de cuidados, de diários reconhecimentos. Como se existisse um espelho especial feito exclusivamente para você. E a passagem frente a ele (e o postar-se diante dele) é obrigatória. Salvadora.
O melhor de tudo é que esse espelho é só uma idéia que humildemente se coloca diante de você. Uma idéia que enxerga você.
Sim, você é visto por ela, a idéia, por ele, o espelho, que, pensando bem, só existe multiplicado: são muitos espelhos, em todo lugar, em casa, na rua, na hora da diversão, na hora do trabalho – até na hora do repouso.
Delicado exercício de ser (porque “ser” significa “ser alguém”, o que é muito mais que “ser algo”), como é fundamental esse permanente estado de alerta mesmo no alheamento. Um alheamento que, segundo Drummond, é “porosidade”. Isto é, nunca se ausentar tão plenamente para não se perder a música do mundo e, junto com ela, a voz que se herdou alimentada pela voz que se construiu.
Cave, fuce, procure, afaste as cortinas, observe, leia, ouça, fale, toque, seja tocado – encare o desafio e a provocação (deliciosa e grave) de identificar o que é força em você e o convoca a construir mas também a fruir, a fazer – e sua recompensa –, a receber o que se move na mesma discreta ação que é gêmea da sua.
Todos nos procuramos. Nós, você, a humanidade, o mundo, as coisas.
E se se repelem, muitas vezes, é porque não compreendem o choque inevitável causado pela paralisação da procura. Alguma força sempre esbarra conosco no caminho. E nos derruba, se não estivermos fortes.
Interessante: pode nos levantar, essa força outra, se estivermos fortes – mesmo frágeis – para ser erguidos. Ajuda externa que nunca é isolada. Nós, decisivamente, a ajudamos. (11/10/2008)
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8 comentários:
Olá, Paulo:
tenho lido seu blog com assiduidade. Só não tenho deixado nenhum comentário. Preguiça? Não mesmo! É que, bem, se eu tivesse facilidade em deixar comentários, estaria, eu mesmo, escrevendo meu blog.
Bem, mas ler você é um estímulo para escrever. Uma prova é este seu texto recente. Levei um susto, na primeira olhada: "Opa! O Bentancur está caindo na onda da auto-ajuda?!" Depois reli e encontrei poesia no texto. E a sua costumeira reflexão sobre tudo, aguda.
Bom fim de semana! Tá chovendo no Sul?
Eliziário Salles de Morais, de Fortaleza.
Ser eu (mesma) é (mesmo) complicado.
E ser você, como é?
:*
Melissa, que honra!
Me sinto SENDO só escrevendo. Me espanta que haja gente alfabetizada no mundo, e, claro, que não tenha media dúzia de filhos para cuidar, que não escreva. Se não escrevo me sinto mudo, apagado (literalmente), como se eu não tivesse cara, fosse apenas um borrão.
Não deve ser mole mesmo ser uma super guria! Mas pros guris, que podem olhar e escutá-la, uau...
Beijocas.
Paulo
Esse texto deixa uma pergunta no ar: É possível ser você mesmo em um mundo que oferece várias identidades para você? Talvez o problema de ser esteja ficando cada vez mais comercial.
Como sempre um ótimo texto, Paulo.
Abração.
Jeff Negromonte, Porto Seguro
Oi, Paulo!
E a Feira do Livro? Podias escrever algo sobre o tema, não é mesmo?
Abraço,
Marcelo Araújo
Paulo, querido:
Saudade de passar por aqui!
Conta sobre os novos projetos.
Abraço,
Érica
puxa, quando que eu veria essa resposta? só uma psicopata como eu, mesmo. hihi.
gostei do serssendo.
sigo, também, sendo-sendo.
:*
Paulo,
coisa boa, este teu texto. A todo momento dá vontade de pegar um lápis e marcar ali mesmo, na telinha, uma ou outra passagem.(não! ... sou quase ruiva!)É engraçado o fato de escreveres como falas, assim, ensinando uma coisa e outra (adorei o gênero do/a personagem), seguindo o texto e falando sobre a força, que nos eleva ou mata. Identificação bruta.
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