sexta-feira, 11 de abril de 2008

BLOG MAS NEM TANTO

Fácil chamar as palavras com o miúdo milho da ansiedade, da carência que se quer vista – se possível como expressão de força –, e juntá-las por parentesco (mesmo que não dialoguem, mesmo que virem blague), somá-las para urdir uma falsa fortuna: a de quem diz o que quer da forma que quer e é lido como deseja. Supremo poder. Nossas antigas cadernetas, ocultas em bolsos de camisas xadrez anos 1970, agora tornam-se imagem agitada (como uma bandeira, dando a maior bandeira) diante de familiares, claro, de vizinhos viciados em espiadelas, claro, e de estranhos que formam uma manada cavalar de milhares de cabeças. E corremos para a galera! Abraços num espaço multimidiático (mais generoso que o espaço intergalático). Comentários que levam a comentários que levam a comentários que levam a. E a correnteza nos carrega, a nós, ex-escribas, agora em inusitado estado: rápido, rápido, que de Shakespeare a Paulo Coelho é um pulo só, embora sejam dois pulsos dando o impulso do fuso horário que fez da tela um papel de todas as gramaturas, todos os tipos, capaz de receber o que nem o autor nem o leitor supunham. Pobres dos arcaicos arte-finalistas que, somados aos ensandecidos redatores, criavam UMA página diferenciada. Hoje são criadas incontáveis páginas num só dia pelo mesmo cara. Eu, prometo, vou devagar. Comigo a tecnologia movida a impulsos eletromagnéticos, cada vez mais agilizada por diversos tratamentos de transmissão, ainda relembra o cheiro da resina. Então, como se o teclado e os caracteres digitados fossem morrer aqui em casa – dependendo, sua sobrevivência, de cansativas cópias que eu teria de fazer e cansativas viagens até origens aonde eles seriam reproduzidos –, escrevo como quem não tem o mundo inteiro à espreita. E tem. E sabe que tem. E sabe que não adianta fingir. Mas finjo assim mesmo. Ou finjo fingir, o que, feitas as contas, dá no mesmo. Viraremos adubo. A resina, virará em alguns anos. O equipamento que me abre o buraco negro da Internet, em alguns séculos. Porém, adubos. E se depois, desse adubo, houver outra forma de vida ou vida nenhuma, nem eu nem você, meu leitor velocista, estaremos aqui para saber. Portanto, que diferença faz? Bloguemos então. Anotando tudo o que já não pode ser salvo porque anotando deixamos gravado aquilo que não mais se incrusta – e, se incrustado fosse, seria varrido pelos próximos cem vendavais. Bloguemos. Bate o vento na persiana, ao lado do computador. Anunciaram um temporal. Vem chuva forte por aí. Pode cair a luz. Antes, tenho de me apressar e salvar este arquivo.

4 comentários:

Anônimo disse...

Paulo,
Sei que vai soar clichê, mas vou repetir o que a maioria, acredito eu, deva te dizer sempre: muito bom ler teus textos! Tão bom que, se leio em voz alta, me aproprio de suas palavras como se tivessem sido minhas!
É sempre bom encontrar leituras, como as tuas escritas, que nos inspiram... Li teu texto e a primeira coisa que me veio em mente foi sair escrevendo, no computador, no caderno e até mesmo na parede!
Ganhaste uma fã!
Com certeza acompanharei teu blog religiosamente.
Abraços,
Fernanda Bertrand.

Anônimo disse...

Bloguemos????rsrsrs
Blogues!!!Nós, leremos.
Maravilha.Não deixes nunca de blogar, agora já "viciamos"...
Joana

Anônimo disse...

Olá Paulo...
quanto tempo hem!!! Vamos blogar!! Faz muito bem pra alma de quem escreve e pra alma de quem lê.
Agora posso ficar mais próxima dos textos do mestre,
um abraço
Raquel Marmentini

Raquel Marmentini disse...

Pode fazer uma visita no meu blog também.

http://raquelescreve.blogspot.com/

Faz pouco que iniciei com esta ferramenta virtual. Engatinhando na criação mas o importante é estar blogando.