Um dia, uma hora, após um evento quase imperceptível, ou uma soma deles, e o tão alentador ritmo da criação constante escoa pelo ralo. E ficamos em silêncio, mudos e, se mudos (escritores que somos), sem interlocução, sem gente que também nos fale. O leitor não perdoando nosso silêncio. Então é preciso voltar a escrever para voltar a ler o que recebemos como resposta, o que acontece do outro lado da tela, da linha, da vida que em nós ameaça se encolher e se expande se escrevemos.
Andei parando. As demandas a se somarem e eu com olhos e ouvidos para outras vozes que não a minha. E calei-me, sem calar no entanto o calor do que eu próprio me dizia e das coisas que lia, diariamente, e que reverberavam em mim. Torturante silêncio. Uma hora rebentaria, explodiria, libertar-se-ia e iria em direção a quem faz o favor de me ler. E a roda-viva retomando então seus movimentos, a Terra voltando a seu mecanismo na relação com os demais astros e seu satélite e sua estrela de quinta, sim, mas que grandeza! Agora me sinto restituído a mim mesmo, dono outra vez das minhas ações, estas palavras que me vestem e com as quais vou tateando a realidade para que ela me reconheça e, desta forma, me aceite, me receba inteiro. E aqui estou. Audível, legível. Homem sem cujas palavras ele será apenas um nome à espera de uma lápide. E sem nenhum leitor, nenhuma testemunha, morto antes da hora. (24/01/2012)
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
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