quarta-feira, 2 de março de 2011

FILHO DE QUEM

Conduziu-me pela mão
o som de membro tão hábil.

Levou-me na direção,
as minha pernas cantando
pedras, tropeços, recantos.

Sentou-me no colo do chão,
desenhou-me a cor da grama,
coloriu-me a terra densa
e suas raízes músculos.

Ergueu-me o rosto pro céu,
a cegar o sol e as nuvens.

Baixou-me o olhar até
o leito onde escorriam
as palavras a criar
o menino já crescido.

Minha mãe com seu vestido,
puído, escondendo os joelhos;
meu pai tropeçando vinho,
gargalhando com os vizinhos.

Eu já era cuidado
ao ponto de cuidadoso
com o que dizia a todos.

Os livros ali tão perto.
Os livros me sussurrando.
Os livros: conselho, relho,
Os livros, sérios, brincando.

Os livros, pais a me dar
um rumo, martelo, murros
necessários no recreio
quando colegas cravavam
receio em quem pensavam
ser filho de pais ausentes.

Literatura, a bênção,
senhora, minha mãe de sempre. (02/03/2011)

2 comentários:

Anônimo disse...

Um dia, moço, eu quero escrever assim: reta. Um dia eu quero saber dizer isso, de pai tropeçando seus vinhos, de mãe de joelhos cobertos. Um dia eu serei assim, moço, e nesse dia - sem nenhuma falsa pretensão, pensarei: sou poeta. Um beijo Bento.

Anônimo disse...

Ei, caro Paulo, o que está havendo com o poeta, o crítico, o blogueiro? Já é uma dificuldade encontrar teus livros nas livraris (num País que edita demais e distribui de menos), e ainda a gente ficar sem ler você através deste importante canal. Pôxa, caríssimo, dê o ar de sua graça que, leitor fiel que sou, há mais de uma década, desde "Instruções para iludir relógios", fico querendo acompanhar os caminhos pelos quais anda a sua literatura e as suas ideias. Grande abraço.

Luiz Malta Cunha, Brotas, SP.